domingo, 16 de outubro de 2016

BOB DYLAN, O DEMIURGO DO SÉCULO XX É NOBEL LITERATURA 2016


Ao meio dos retrocessos e da caretice global, eis uma excelente notícia: 
Bob Dylan, Prêmio Nobel Literatura 2016. 

A direita aprumando o imaginário deste novo século e aí...PIMBA! Dylan reaparece e todo mundo descobriu que em algum lugar da memória existe um mundo de utopias transformadoras. Não é pouca coisa. Mesmo assim houve uma gritaria de opiniões desencontradas - a favor e contra, mas como se trata de Bob Dylan, nada disso poderia ser diferente, né mesmo? Dylan como a sua obra, traz o húmus da ambiguidade, das metáforas, do simbólico quebra-cabeças de interpretações que através das suas letras (poesia) e canções (músicas) mudou a percepção das pessoas em todo mundo, ele foi um farol do convulsionado anos 60.

O Nobel sempre foi polêmico, envolto em intrigas e injustiças... Teve premiados que recusaram a premiação: Jean Paul Sartre-Literatura1964, Le Duc Tho, presidente do Vietnã do Norte que recusou o Nobel da Paz 1973. Até, o poeta Carlos Drummond de Andrade, quando se ventilou que estaria entre os candidatos, mas diante das exigências de documentos que precisava enviar, aborreceu-se e pediu para interromperem o processo de investigação da sua obra. Teve outros que foram boicotados por ações políticas (Boris Pasternak -1958, pressionado pela URSS). No Brasil, a Ditadura ficou incomodada com uma possível indicação do Nobel da Paz aos Irmãos Villas-Boas. Durante o nazismo Hitler quis implodir essa premiação. Mas, o Nobel segue, premiar Bob Dylan, foi uma surpresa, uma irreverência a altura do premiado, neste sentido é uma das boas coisas deste evento mundial. No entanto, o poeta e músico Leonard Cohen indagado sobre esta premiação declarou: "Dylan é maior que o Nobel".



No cinema quantos filmes hoje clássicos foram esnobados por filmes premiados (Cannes, Veneza, Berlim, Oscar etc) e que hoje sequer ocupam um cantinho na historia do cinema? Mesmo assim estes festivais continuam de alguma forma fazendo história. A cultura norte-americana no século XX foi muito forte, alimentou-se do melhor que se fazia na Europa antes e depois das grandes guerras e produziu referências emblemáticas em todas as áreas, inclusive políticas, como não reverenciar o amálgama da contra-cultura: poesia, literatura, música, movimento indigenista, feminista, direitos civis, afro-norteamericanos - panteras negras.




No Brasil, um dos seus maiores divulgadores é o ex-senador e atual vereador Eduardo Suplicy: "How many roads must a man walk down/ Before you can call him a man". (Quantas estradas um homem deve percorrer/ Pra poder ser chamado de homem?)

MASP, LINA BO BARDI & RUBENS GERSCHMAN



Levado pelo meu filho Antonio (14), mais uma vez visitamos o acervo do MASP.  Este é um lugar de grande intimidade para mim, frequento-o por mais de 4 décadas, conheço razoavelmente parte dos seus meandros. Aonde, também, fiz e ainda tenho alguns amigos, por que parte deles já atravessaram o rio da vida, mas deixaram de alguma maneira suas marcas inscritas nesta caverna.

Uma das referências marcantes do MASP, além do seu projeto arquitetônico, assinado por Lina Bo Bardi, com certeza se faz nos suportes de vidros aonde os quadros são expostos, fazendo uma paisagem oceânica de pintores de vários escolas ao longo dos séculos. Muito se escreveu e falou sobre esta ousadia e da forma como estes notáveis gênios da pintura se encontram ao alcance dos olhos do visitante. 



Inclusive, por muitos anos, a curadoria do MASP, pós a morte do professor Pietro Maria Bardi, decidiram excluir os suportes transparentes de vidro sob uma base de concreto. E instituiram a mesmice das paredes, sonegando a originalidade expositiva imaginada pela arquiteta Lina Bo Bardi. E, por anos, infelizmente os quadros ficaram pendurados na parede. 


Lina, quando decidiu por estes suportes, ela desejou criar uma relação íntima e didática entre o visitante e a obra, mesmo, e sobretudo que ele fosse um neófito conhecedor dos mestres da pintura. O visitante, caso não saiba quem é o artista que lhe causou alguma emoção, ele pode caminhar para a parte detrás, aonde poderá ter acesso as informações básicas do artista e da obra. 


E, aí, mais uma vez encontrava-me no MASP, mas desta vez como convidado do meu filho, ele nada ou quase nada sabia destas histórias que narrei acima, daí a maravilha desta visita. A partir das reações deste jovem, como também de outros visitantes, observei que a premissa da arquiteta...As pessoas adentravam, penetravam naquela variedade de artistas e escolas...Ticiano aqui, um Rafael ali...um Bellini acolá..Andrea Mantegna e o impressionante "As Tentações de Santo Antão" de Hieronymus Bosh, mas adiante Nattier, Delacroix, Manet, Cézanne, Renoir, Toulouse-Lautrec, Gauguin, Monet, Van Gogh, Degas, Velasquez, Goya, El Greco, Turner, Frans Gals, Rembrant, Jan Van Donicke e o tempo se abre para mais ousadias...Torres Garcia, Diego Rivera, Calder, Siqueiros, Portinari, Brecheret, Flávio de Carvalho, Almeida Junior, Anita Malfatti, Volpi, Tarcila Amaral...Vicente do Rego Monteiro e a sua arte influenciada pela produção artísticas dos indígenas brasileiros. Os séculos se passam aos nossos olhos e imaginação numa caminhada.


E, eis que lá no fundão encontrei essa pérola, a escultura-objeto de Rubens Gerchman, meu mestre no Parque Lage (1977/78). Este trabalho tem um simbolismo daquilo que nós todos desejamos...ao menos uma lufada de vento fresco nos tempos que as liberdades individuais e coletivas encontram-se ameaçadas.



"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

www.tudoporamoraocinema.com.br

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Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.