sábado, 21 de novembro de 2015

CHATÔ - O REI DO BRASIL



Via Facebook

Outro dia durante uma pesquisa (anos 60) dei-me de frente com esta declaração de ZÉ Celso (Teatro Oficina): 

"Num país de tradição oportunista e de ditadura de classe média...Depois dos caminhos tentados resta agora a antropofagia. A eficácia política é devorar toda a mitologia deste país." 

Uau! E, eis que depois de assistir ao filme "Chatô - O Rei do Brasil" (1995-2015), dir. Guilherme Fontes, lançado 20 anos depois da sua realização, o tempo (raro nos filmes) lhe fez bem, sob efeito da antropofagia oswaldiana, ele nos arrebata...dessacraliza, devora. 




Chegou num tempo quando a "caretice" tomou conta de tudo, mas, aqui e ali, focos de resistência dão sinal de vida (um deles é "Ralé" (2015) - Helena Ignez). 

Chatô, segue na linha das tradições inquietantes das artes do Brasil, aquela que bebe na irreverência, no deboche e tão bem traduzida na montagem dramatúrgica de Zé Celso ("Rei da Vela" - 1967). Este filme, ironicamente, parece uma mensagem enviada (por acaso) num artefato do passado para se revelar num presente constrangedor, neste em que a criatividade tem como objetivo a subordinação - forma e conteúdo - as fórmulas dos filmes tipo "hollywood" ou "tvglobo". 

O filme "Chatô - O Rei do Brasil" é a mosca que cai na sopa durante a ceia dos contentes.

Ponto alto para os figurinos e direção de arte  (Rita Murtinho e Celina Richers), Fotografia de José Roberto Elieser, ao protagonismo do ator Marco Ricca, das atrizes Andrea Beltrão e Leticia Sabatella, Gabriel Braga Nunes, Paulo Betti entre outros.

E a participação mais que especial dos atores José Lewgoy e Walmor Chagas.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

EL ABRAZO DE LA SERPIENTE ... O ABRAÇO DA SERPENTE





Uma das minhas vibrantes descobertas nesta Mostra São Paulo foi o filme "O ABRAÇO DA SERPENTE" (El abrazo de la serpiente), 2015. Prod. Colombia, Venezuela e Argentina. Dir.: Ciro Guerra. 

Guerra, consegue fazer do seu filme não apenas mais uma história antropológica-etnográfica-indigenista...Vai muito a frente...É uma experiência sensorial das mais instigantes, uma viagem épica e alucinógena entre o desconhecido - a busca permanente por respostas ainda não respondidas. O estranhamento nos completa. A minha emoção diante deste filme só se compara quando assistir, nos anos 70, "Aguirre, a cólera de deus" (W. Herzog). Com um elenco afiadíssimo, podemos dizer mais sobre a trilha de Nascuy Linares e a fotografia de David Gallego, um dos pontos altos desta produção. 



"O Abraço da Serpente", se inspira na vida e obra do etnólogo alemão Theodor Koch-Grunberg (1872-1924), um dos pioneiros dos registros fílmicos da Amazônia e do Brasil. Em 1911, ele realizou um doc., 9': "Aus dem Leben des Taulipang in Guiana" (Da Vida dos Taruepang na Guiana). Nele podemos apreciar o preparo do milho, da mandioca, do algodão, algumas brincadeiras e o ritual Parisherá. Ah, sim, foi inspirado num dos mitos recolhidos por Koch-Grunberg que o escritor Mario de Andrade (1893-1945) escreveu a sua denominada rapsódia brasileira "Macunaíma". 



Acima os bastidores da filmagem "O Abraço da Serpente" (El abrazo de la serpiente); abaixo uma foto original do etnólogo Theodor Koch-Grunberg.


"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

www.tudoporamoraocinema.com.br

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Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.