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Outro dia durante uma pesquisa (anos 60) dei-me de frente com esta declaração de ZÉ Celso (Teatro Oficina):
"Num país de tradição oportunista e de ditadura de classe média...Depois dos caminhos tentados resta agora a antropofagia. A eficácia política é devorar toda a mitologia deste país."
Uau! E, eis que depois de assistir ao filme "Chatô - O Rei do Brasil" (1995-2015), dir. Guilherme Fontes, lançado 20 anos depois da sua realização, o tempo (raro nos filmes) lhe fez bem, sob efeito da antropofagia oswaldiana, ele nos arrebata...dessacraliza, devora.
Chegou num tempo quando a "caretice" tomou conta de tudo, mas, aqui e ali, focos de resistência dão sinal de vida (um deles é "Ralé" (2015) - Helena Ignez).
Chatô, segue na linha das tradições inquietantes das artes do Brasil, aquela que bebe na irreverência, no deboche e tão bem traduzida na montagem dramatúrgica de Zé Celso ("Rei da Vela" - 1967). Este filme, ironicamente, parece uma mensagem enviada (por acaso) num artefato do passado para se revelar num presente constrangedor, neste em que a criatividade tem como objetivo a subordinação - forma e conteúdo - as fórmulas dos filmes tipo "hollywood" ou "tvglobo".
O filme "Chatô - O Rei do Brasil" é a mosca que cai na sopa durante a ceia dos contentes.
Ponto alto para os figurinos e direção de arte (Rita Murtinho e Celina Richers), Fotografia de José Roberto Elieser, ao protagonismo do ator Marco Ricca, das atrizes Andrea Beltrão e Leticia Sabatella, Gabriel Braga Nunes, Paulo Betti entre outros.
E a participação mais que especial dos atores José Lewgoy e Walmor Chagas.