segunda-feira, 30 de março de 2015

BRANCO SAI, PRETO FICA _1

Cara! Quem ainda não viu, saia do feice e assista o filme "BRANCO SAI, PRETO FICA" - Adirley Queiróz. É um inusitado olhar sobre a Ceilândia, um lugar que pessoalmente vi nascer. 


No emaranhado dos ressentimentos...ao meio das manipulações de corações e mentes confabuladas, peço emprestado a máxima do mestre das chanchadas Sérgio Augusto ("Este Mundo É Um Pandeiro"), vivemos numa espécie de "grand guignol tupiniquim". Ele referia-se ao precário-inventivo nos filmes de terror de José Mojica Marins, podemos perfeitamente, também, denominar este filme "BRANCO SAI, PRETO FICA" dentro desta premissa. Na medida que o diretor, roteirista e produtor Adirley Queiróz recorre a inventividade das limitações de produção para criar uma atmosfera apocalíptica em que vive os seus personagens de Ceilândia - Distrito Federal. E consegue.


A começar pela fotografia de Leonardo Feliciano, nela não existe o "céu-mar" de Brasilia, tampouco jardins verdejantes e floridos e nem a máxima futurista que marca o projeto urbanístico e arquitetônico. 

Estamos entre os excluídos, os rejeitados...martirizados...Apesar do Brasil não viver nenhum Iraque ou Afeganistão aqueles jovens morados da periferia brasiliense encontram-se amputados, não somente socialmente e economicamente, mas fisicamente, literalmente. 

Existe uma guerra. 

A polícia é uma ameaça em vez de ser um serviço público de segurança e proteção. A polícia é o medo. Resta o sonho futurista libertário mesmo que ele se encontre dentro de um "contêiner". É um vingativo sonho-pesadelo, ele quer exterminara cidade-futurista da exclusão e com ela  o país Brasil e os seus símbolos de poder: O Congresso e outros palácios de Brasilia - "a capital da esperança".

O filme não somente pegou-me pelo inusitado da sua narrativa, mas, também pela história de Ceilândia cruzar com a minha história de vida. Explico-me. Recém aluno de Arquitetura-UnB (1972), um dos trabalhos de campo foi fazer pesquisa naquele aglomerado de casas. 





O surgimento deste "depósito de renegados" era um fato comentado pelos professores da UnB. O governador na época (1969-1974), era o militar Hélio Prates da Silveira, coube a ele tornar realidade o projeto da Ceilândia, sob auspícios filantrópicos da Primeira Dama. O Hélio Prates, tinha um ódio (inveja) mortal do Oscar Niemeyer - ele, sempre que podia aparecia na TV para tentar desqualificar as obras de Niemeyer. A Ceilândia surgiu para reunir os moradores das invasões localizados nas áreas ambicionadas pelos especuladores imobiliários - Asa Norte e Núcleo Bandeirantes

Hoje, Ceilândia, entre outras coisas, é uma espécie de celeiro de cineastas, não somente este filme "BRANCO SAI, PRETO FICA" - Adirley Queirós (2014), mas também do curta "MEU AMIGO NIETZCCHE" - Fauston Silva (2012).

segunda-feira, 23 de março de 2015

A BATALHA ESQUECIDA DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Finalmente, depois de 70 anos, os "soldados da borracha" vão receber indenização.

Segundo Darcy Ribeiro: "Esta é a batalha esquecida da 2a. Guerra Mundial". Foram 50 mil nordestinos (1942-1945) atraídos para trabalharem na selva amazônica extraindo o látex. 

Esse episódio revela o quanto de perverso foi e continua o sistema de exploração do trabalho na Amazônia. Naquela época, os EUA para agilizar o sistema produtivo da borracha criou o Banco de Crédito da Borracha em detrimento ao tradicional sistema de intermediários (elite do comércio) denominados "aviadores", eram eles que ficavam com a maior parte do lucro, quase nada ficava com os seringueiros, estes continuavam endividados cada vez mais e jamais conseguiam sair daquele "campo de concentração" em plena selva. 


Com a criação do Banco de Crédito da Borracha acreditava-se que pagando melhor ao seringueiro estimularia a coletar mais borracha. A "elite do comercio aviador" não gostou desta nova modalidade de comércio e passou a boicotar na entrega da borracha nos portos. 

Em 1943, num relatório ao Secretário de Estado EUA, um funcionário assim conclui o seu relatório: 

"Não há, em nenhum lugar, quatro mais negro daquilo que, em sociedades mais evoluídas, optamos por chamar corrupção e exploração. Foi um erro ignorar a sociedade estabelecida, com seus tentáculos seculares que se estendem sobre todos os milhares de seringueiros."


Os comerciantes da borracha, senhores feudais da selva amazônica, reinavam com mão-de-ferro e para manter esse status quo de poder e submissão, persuadiram os "seringueiros" a entregar-lhes a caderneta fornecida pelo governo federal, e que era a garantia para serem ressarcidos no pós-guerra. No final, aqueles comerciantes nunca devolveram as "cadernetas do soldado da borracha", ela foram incineradas para tornar cinzas as garantias dos trabalhadores da borracha. 70 anos depois, aí, estão eles, com a idade avançada, a maioria já morreram e não puderam celebrar, mesmo que tardiamente, essa vitória.

A SEMENTE DA TEIMOSIA NÃO DÁ FRUTOS

Essa triste história do governador do AM, José Melo, extinguir a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação, o Centro Estadual de Unidade de Conservação e o Centro Estadual de Mudanças Climáticas não é nenhuma novidade...Andar para trás, mas não como o astucioso curupira, andar pra trás como quem não quer ir mais adiante. 


No tempo da lambança em que as seringueiras vertiam fortunas...

Naquela época nas reuniões da ACA - Associação Comercial do Amazonas, os comerciantes da borracha, dividiam-se entre os que defendiam investir em ciência e tecnologia, criando escola e universidade, e outros que faziam muxoxo contra essa idéia que com certeza viabilizaria a produção da borracha em plantio e não somente extrativista - esta estava com os dias contados... 

As sementes que os ingleses haviam biopirateado, já eram plantas adultas produzindo látex (sudeste asiático) com mais abundância, quer dizer, gerando cada vez mais lucros. 

Como todos sabem...Os probos comerciantes da borracha da Amazônia ficaram chupando os dedos. 

Mas foi somente nos anos 50 alguns amazonenses antenados com o futuro (Cosme Ferreira Filho, Djalma Batista, Manoel Bastos Lira...) resolveram assumir o desafio em criar uma instituição que atendesse a demanda da pesquisa sobre o nosso bioma: INPA - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. 

Resumo da ópera, hoje o INPA é uma referência mundial em Biologia Tropical. Enquanto que a Escola Universitária Livre de Manaus, quando se resolveu cria-la (1909) já era tarde, o capital havia migrado para outro continente. Ficou somente as sementes da teimosia e, essa como sabemos não dá frutos.. 

Caso os políticos se olhassem no espelho, veriam que as "gorduras" encontram-se localizadas.

sexta-feira, 20 de março de 2015

O SAL DA TERRA - SEBASTIÃO SALGADO

A 4a. Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental - 4th Ecofalante Environmerntal Film Festival não poderia ter melhor filme de abertura que não fosse "O SAL DA TERRA" (2014), dir. Wim Wenders e Juliano Salgado


Neste filme-doc o fotógrafo Sebastião Salgado nos abre ao olhar indiscreto das suas possibilidades e descobertas. Ele, Salgado e o filme nos conduz ao universo onírico e devastador dos pesadelos causados pelas mazelas da humanidade destruindo a sua originária morada. 

Como deve ter sido difícil para Salgado realizar a sua obra fotográfica, não me refiro a logística de produção, mas a barra psíquica em testemunhar aquilo que a maioria da população nada viu e nem quer saber. 




Fiquei em lágrimas quando, depois de nos mostrar a terra arrasada da fazenda (Rio Doce-MG) que pertence a várias gerações da sua família. Aonde o menino Sebastião usufruía do prazer em brincar na floresta e nos córregos, e que infelizmente depois de muitos anos de devastação, se tornou numa paisagem de extensões de terra erodidas

Ao final, Sebastião Salgado e a sua mulher Lélia Wanick Salgado, criam o Instituto Terra e decidem reflorestar. São plantadas milhões de árvores de várias espécies da Mata Atlântica. Aquilo que era paisagem agônica se revela 10 anos depois numa nova floresta, aonde, inclusive, a onça volta a beber água em sua morada selvagem. 

O filme "O Sal da Terra" não ganhou o "Oscar 2015" de melhor doc, isto seria muito pouco, ele, Sebastião Salgado deveria ganhar o Prêmio Nobel da PAZ 2015. 

Que lição de vida!

CITIZENFOUR - UM PROMETEU SÉCULO XXI

Finalmente tive a oportunidade de assistir a exibição do mais que importante filme-doc “Citizenfour” de Laura Poitras - Vencedor do Oscar 2015 de Melhor Documentário


Tudo começa quando a diretora recebe e-mails assinados por um tal de "citizenfour" e faz com que viaje até Hong Kong. O misterioso interlocutor é nada menos que Edward Snowden. O que acontece depois disso é história replicada nas mídias, nem sempre esclarecendo, mas sonegando a verdadeira história deste cidadão-coragem de apenas 29 anos, e ex-analista da agência de segurança dos Estados Unidos (NSA) que revelou o programa de espionagem ilegal promovido pelo governo americano. 

Diante destas perigosas denúncias, uma coisa fica claro, aquela pueril plaquinha afixada em vários estabelecimentos "sorria, você está sendo filmado", é por demais inocente. A verdade é uma só: estamos todos monitorados e a liberdade de expressão nas redes sociais, é apenas uma isca para nos manter vigiados, controlados, manipulados (?). 

Neste sentido existe uma ameaça em processo contra a democracia planetária e quem tem a coragem de denuncia-la torna-se um fugitivo da liberdade expressão. Snowden, é um destes fugitivos, cavaleiro solitário como o são Julian Assange e, foram Brady Manning, Daniel Ellsberg - todos eles personagens deste mesmo pesadelo, rebeldes em defesa da democracia que tiveram a coragem em surpreender a voraz estratégia norte-americano em querer controlar tudo e a todos. Impossível dormir no meio desta paranóia. 


A diretora Laura Poitras disponibilizou gratuitamente na internet o acesso ao filme "Citizenfour".

EM TEMPO: A exibição pública e gratuita em São Paulo/ "Espaço Atelier do Gervásio" foi organizado pelos coletivos: Outras Palavras, Actantes e Agência Pública

A BANALIDADE DO DESEJO



Diante das manifestações de maio 68, o cineasta Pier Paolo Pasolini, escreveu e publicou num dos jornais mais lidos da Itália, uma crônica que deixou a esquerda e a direita furiosas. Ele dizia, o deus deste novo mundo é o "consumismo", "é mais nova religião". 

E acrescento....É a banalidade do desejo. 

Afinal o que é o "self"?

LUGAR DA MULHER, É NA COZINHA

Tenho a opinião que esse ódio contra a presidente Dilma, não surgiu de repente, por causa da inflação, do aumento do dólar, dos cortes nos investimentos, ele vêm como uma névoa maléfica...lá do início...foi crescendo contaminado pela crise e pelas denúncias de corrupção na Petrobrás. 



Conclusão: A grande parte deste ódio contra a presidente é por ser "MULHER". Está pesando o machismo da nossa cultura. Caso fosse um homem, não haveria essa falta de respeito. As pessoas ( homens e suas mulheres cúmplices) estão agindo como todos os dias acontece com milhares de mulheres espancadas, humilhadas e assassinadas em nosso país.

Todo mundo no Brasil deu pra vestir a carapuça da honestidade. Todos pagam seus impostos em dia. Todos tratam com respeito seu vizinho, seus interlocutores. Todos dão recibos quando pagos por seu trabalho, não avançam sinal vermelho, respeitam os lugares reservados aos idosos... Hummmm...Isso tudo me faz recorrer a antiga historia do imperador romano Júlio César, 60 a.C.: 

“À mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer honesta.”  

- Façam-me, um favor...

domingo, 1 de março de 2015

ARTE DEGENERADA, LEMBRAM?

ARTE DEGENERADA, LEMBRAM? 


Encontro-me chocado com a reação ao grafite que supostamente retrata Hugo Chavez - os autores negam. E se fosse? Andy Warhol retratou Mao Tse Tung, e daí? 

Essa intolerância se faz presente em nome do quê? 

Joseph Goebbels, ministro de Propaganda do 3º Reich, anotou em seu diário: "Nenhum quadro será poupado".  Uma frase terminal, com consequências avassaladoras: pouco mais de um ano mais tarde, em 20 de março de 1939, mais de 5 mil obras de "arte degenerada" (Entartete Kunst) seriam queimadas na Alte Feuerwache – então sede do Corpo de Bombeiros em Berlim. 


Os nazistas não estavam para "brincadeiras", eles fizeram uma lista de artistas (músicos, cineastas, dramaturgos, pintores, chargistas, etc) que deveriam ser banidos para sempre, os quais denominaram "degenerados": 

Chagall, Max Ernst, El Lissitzky, Lasar Segall, Picasso, George Grosz, Modrian, Paul Klee, Kandinsky e muitos outros... 

Não conseguiram. 

Toda intolerância é ridícula, medíocre...Boba, mas cruel...abominável.

"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

www.tudoporamoraocinema.com.br

Minha foto
Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.