segunda-feira, 24 de junho de 2013

O HOMEM CORDIAL PERDEU A PACÊNCIA

Incrível...são esses dias, mês das fogueiras, mas desta vez foram as manifestações populares que incendiaram o Brasil. As ruas, avenidas, praças, praias, monumentos invadidas pela multidão...um sonho realizado, mas logo me pergunto e depois? Indago-me novamente não consigo escrever, postar e colaborar de alguma forma com o debate. E a ironia está aqui...                         

Encontro-me tomado integralmente num complexo trabalho para terminar o meu filme "Tudo Por Amor Ao Cinema", e neste mesmo filme existe momentos que se refere a isto...lutar por um sonho. São opções que somos obrigados a fazer. Dois dos meus filhos se encontram nas ruas, e o terceiro (11 anos) em casa participa de orelhada: 

"- Vamos lá pai!". 

Penso, nos meus 12 anos havia uma ditadura no Brasil, e em casa meus pais acuados faziam de um tudo para os meus irmãos mais velhos não se exporem. "Cala a boca", "olha o que falas por aí", "cuidado com os dedo-duros","não dê murro em ponta de facas"... E quando consegui ir para as ruas em 1968, a coisa havia assumido proporções de altos riscos, não era somente a liberdade de cidadão, mas sobretudo a VI-DA. 

Ouso e me arrisco re-escrever ao fazer um paralelo ao poema “Howl/O Uivo”, de Allen Ginsberg: "vimos os melhores da nossa geração morrer por seus ideais, torturados, drogados, desiludidos e...o melhor: 

"SEJAMOS REALISTAS, PEÇAMOS O IMPOSSÍVEL!" 

É este o oxigênio que não podemos perder, não podemos também esquecer que a geração que se encontra no poder com todos os equívocos e desilusões (e até mesmo traições) foram eles que lutaram para esta multidão manifestar-se livremente, e isto não podemos perder. Devemos cobrar, exigir, não deixá-los no êxtase da letargia adesista. Eles foram picados pela cantilena do neo-liberalismo econômico, este que nega a sociedade e eleva o indivíduo como energia da acumulação da riqueza.. Felizmente na contra-mão deste modelo econômico  afirma-se a comunhão do Homem com o Meio Ambiente, donde temos retirado toda a nossa riqueza cultural e espiritual. E este foi uma das questões que o atual governo brasileiro distanciou-se, optando pelo "tal progresso a qualquer custo". 

Soma-se a isso os desmandos e frustrações advindas do pacto de "governabilidade" (corriqueiro na política brasileira) entre o grande capital e os governantes oriundos de um partido que surgiu de um ideal libertário. E, por ironia as conquistas sociais e econômicas dos últimos 10 anos fazendo milhões de brasileiros a ascender socialmente, tendo acesso aos bens de consumo, são essas pessoas que se encontram tambem nas ruas a reivindicar melhoria nos serviços públicos, este que não acompanhou o processo de de riqueza da nação, necessidades sempre jogadas debaixo do tapete administrativo, por exemplo: saneamento básico, transportes públicos...Essas frustrações secular transformou-se num tsunami, numa festa participativa que tomou conta da realidade e do imaginário brasileiro - norte-sul, leste-oeste. E, num plano maior das nossas reflexões nos leva a crer que esse fato veio contradizer os bobocas, aqueles entusiastas do "fim da história" ou "fim da utopia"..

A máxima do século XIX continua atual: 
"O HOMEM É UM ANIMAL POLÍTICO". 

Elas, as utopias, são a argamassa da realidade, sem a qual não se chega a lugar nenhum. Só nos resta celebrar...que as ruas sejam a liberdade e não a armadilha da perda desta mesma LIBERDADE.  

Temos consciência de tudo isto, e é em nome disto que, a juventude brasileira deseja mudanças, suas exigências são múltiplas, acumuladas desde dos seus antepassados, e nunca atendidas, sempre atraiçoados, sempre reprimidos. Choca assistir a violência cega, descontrolada acuando a polícia, maculando prédios, monumentos...Mas é preciso que se diga, hoje como ontem mata-se e morre-se em grandes escalas, em espetaculares cenários e com formidáveis máquinas de guerra tecnológica, mobilizados em nome dessa falsa utopia dos nossos tempos: a utopia liberal, esta que enaltece o egoísmo como fonte de bem comum, fruto de um pretenso (mas falso) modelo libertador. Aí está a fonte imediata de todas as revoltas que ronda o planeta sob um mesmo nome: a mobilização por melhores condições de vida urbana, contra a corrupção, contra os privilégios de grupos e autoridades do executivo, legislativo e do judicário

E que assim seja.

"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

www.tudoporamoraocinema.com.br

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Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.