Incrível...são esses dias, mês das fogueiras, mas desta vez foram as manifestações populares que incendiaram o Brasil. As ruas, avenidas, praças, praias, monumentos invadidas pela multidão...um sonho realizado, mas logo me pergunto e depois? Indago-me novamente não consigo escrever, postar e colaborar de alguma forma com o debate. E a ironia está aqui...
"- Vamos lá pai!".
Penso, nos meus 12 anos havia uma ditadura no Brasil, e em casa meus pais acuados faziam de um tudo para os meus irmãos mais velhos não se exporem. "Cala a boca", "olha o que falas por aí", "cuidado com os dedo-duros","não dê murro em ponta de facas"... E quando consegui ir para as ruas em 1968, a coisa havia assumido proporções de altos riscos, não era somente a liberdade de cidadão, mas sobretudo a VI-DA.
Ouso e me arrisco re-escrever ao fazer um paralelo ao poema “Howl/O Uivo”, de Allen Ginsberg: "vimos os melhores da nossa geração morrer por seus ideais, torturados, drogados, desiludidos e...o melhor:
"SEJAMOS REALISTAS, PEÇAMOS O IMPOSSÍVEL!"
É este o oxigênio que não podemos perder, não podemos também esquecer que a geração que se encontra no poder com todos os equívocos e desilusões (e até mesmo traições) foram eles que lutaram para esta multidão manifestar-se livremente, e isto não podemos perder. Devemos cobrar, exigir, não deixá-los no êxtase da letargia adesista. Eles foram picados pela cantilena do neo-liberalismo econômico, este que nega a sociedade e eleva o indivíduo como energia da acumulação da riqueza.. Felizmente na contra-mão deste modelo econômico afirma-se a comunhão do Homem com o Meio Ambiente, donde temos retirado toda a nossa riqueza cultural e espiritual. E este foi uma das questões que o atual governo brasileiro distanciou-se, optando pelo "tal progresso a qualquer custo".
Soma-se a isso os desmandos e frustrações advindas do pacto de "governabilidade" (corriqueiro na política brasileira) entre o grande capital e os governantes oriundos de um partido que surgiu de um ideal libertário. E, por ironia as conquistas sociais e econômicas dos últimos 10 anos fazendo milhões de brasileiros a ascender socialmente, tendo acesso aos bens de consumo, são essas pessoas que se encontram tambem nas ruas a reivindicar melhoria nos serviços públicos, este que não acompanhou o processo de de riqueza da nação, necessidades sempre jogadas debaixo do tapete administrativo, por exemplo: saneamento básico, transportes públicos...Essas frustrações secular transformou-se num tsunami, numa festa participativa que tomou conta da realidade e do imaginário brasileiro - norte-sul, leste-oeste. E, num plano maior das nossas reflexões nos leva a crer que esse fato veio contradizer os bobocas, aqueles entusiastas do "fim da história" ou "fim da utopia"...
A máxima do século XIX continua atual:
"O HOMEM É UM ANIMAL POLÍTICO".
"O HOMEM É UM ANIMAL POLÍTICO".
Elas, as utopias, são a argamassa da realidade, sem a qual não se chega a lugar nenhum. Só nos resta celebrar...que as ruas sejam a liberdade e não a armadilha da perda desta mesma LIBERDADE.
Temos consciência de tudo isto, e é em nome disto que, a juventude brasileira deseja mudanças, suas exigências são múltiplas, acumuladas desde dos seus antepassados, e nunca atendidas, sempre atraiçoados, sempre reprimidos. Choca assistir a violência cega, descontrolada acuando a polícia, maculando prédios, monumentos...Mas é preciso que se diga, hoje como ontem mata-se e morre-se em grandes escalas, em espetaculares cenários e com formidáveis máquinas de guerra tecnológica, mobilizados em nome dessa falsa utopia dos nossos tempos: a utopia liberal, esta que enaltece o egoísmo como fonte de bem comum, fruto de um pretenso (mas falso) modelo libertador. Aí está a fonte imediata de todas as revoltas que ronda o planeta sob um mesmo nome: a mobilização por melhores condições de vida urbana, contra a corrupção, contra os privilégios de grupos e autoridades do executivo, legislativo e do judicário.
E que assim seja.