sábado, 30 de novembro de 2013

AMAZÔNIA MUNDI

A EXPOSIÇÃO AMAZÔNIA MUNDI abre a visitação no dia 30 de novembro e fica até maio de 2015. Até lá um público constituído de maioria crianças e adolescentes da Zona Leste de São Paulo terão a oportunidade (pela primeira vez) para interagir  com a nossa região através de filmes, fotos e outros conteúdos referentes a Amazônia - passado, presente e futuro. 

AMAZONIA MUNDI ocupa uma área de 1.200 metros quadrados e é divido em dois ambientes. Na parte externa, um cenário simula cênicamente casas ribeirinhas amazônicas. No lado de dentro há esculturas de animais da florestas, instalações que explicam sobre o ciclo das águas e sons de pássaros e de insetos que vivem na região. Esse empreendimento do SESC- Itaquera é visitado nos fins de semana por 15 mil pessoas. Fora que este lugar se localiza numa das últimas reservas florestais de São Paulo - Parque do Carmo.

O conceito e a instalação da exposição está sob a responsabilidade da FAREARTE (Anna Claudia Agazzi e Alvise Migotto), e quem 10 anos atrás montou a exposição "AMAZONIA BR" no SESC POMPÉIA-SP.

FOTOS: Rodrigo Petrella (SP), Vicent Carelli, Araquém Alcântra (SP), Andreas Valentim (RJ), Lula Sampaio (AM), Ricardo Oliveira (AM), Paulo Santos (PA), André Lorenz Michiles (SP), Aloísio Cabalzar, Alberto Cesar Araujo, Beto Ricardo (SP), Mauricio de Paiva (SP). 

FILMES: "Nas Asas do Condor"- Cristiane Garcia (AM), "Ribeirinhas do Asfalto" de Jorane Castro (PA), "Histórias do Rio Negro" de Luciano Cury (SP), "Tavaquara" de André Michiles e João Pavesi (SP), "Crianças da Amazônia" de Denise Zmekhol (SP), "Ao Redor do Brasil", de Major Thomaz Reis, o cinegrafista da expedição de Rondon, "O Cineasta da Selva" - Silvino Santos, de Aurélio Michiles. Alem duma mostra selecionada da filmografia da produtora "Vídeos nas Aldeias" (Vicent Carelli). 

Sou responsável também pelas instalações:

1. Casa do Caboclo: "O Horizonte Infinito das Arvores" - a partir do romance "Um relato de um certo Oriente" de Milton Hatoum. Onde temos a oportunidade de ouvir o autor ler um trecho do seu primeiro romance.

2. Via Látex, brasiliensis: "Uma única planta da Amazônia revolucionou o mundo moderno". 

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O YOM HASHOÁ YANOMÂMI...20 ANOS DEPOIS

Logo depois deste massacre ter acontecido, encontrei em Brasília com o líder Davi Kopenawa e, ele pediu que realizássemos um documentário sobre esse trágico episódio acontecido com o seu povo. Levei a idéia ao Beto Ricardo do Instituto Socioambiental e que apoiou de pronto.

O filme-documentário "Davi Contra Golias" teve estréia no MIS-SP (Museu da Imagem e do Som), no "Dia do Índio" - 19 de abril de 1994. E, para a nossa supresa no dia 24 de abril, a Folha SP, publicou um infame artigo "Os bastidores do ianoblefe" assinado por Janer Cristaldo um texto em que ele tentava desqualificar os índios (pasmem!) e,  também o massacre. Logo outros profissionais como o Procurador da República Aurélio Virgilio Veiga Rios, a jornalista Memélia Moreira, o articulista Arnaldo Jabor e a antropóloga Alcida Rita Ramos saíram em defesa dos Ianomâmi, e por fim a Folha SP pediu-me que escrevesse um artigo para encerrar a polêmica. O texto de minha autoria que saiu publicado é este, o qual posto neste blog para memorizar a memória deste fato, 20 anos depois. 


Domingo, 15/MAIO/1994. Folha de São Paulo
PONTO CRÍTICO
Especial para a Folha

O YOM HASHOÁ IANOMÂMI
AURÉLIO MICHILES

Para início de conversa: o massacre dos ianomâmi de Haximú, não foi um só, foram vários. É só ler o Laudo Pericial da Polícia Federal, conforme inquérito policial número 078/93-DPF-1/RR/19. ago 93-30. set. 93/2 volumes. Os meios de comunicação documentaram como possível e foi o suficiente para se chegar aos fatos – houve o massacre. O resto é apenas uma prática comum de fazer persuadir a opinião pública: tudo que se vê não é aquilo que se vê, é apenas o que EU quero que vocês vejam.

Duvidar da cremação de cadáveres pelo leviano argumento dos ianomâmi não possuírem modernos crematórios ou forno de microondas? É ridículo. É a mesma coisa que duvidar dos primeiros viajantes cruzando oceanos, descobrindo outros continentes antes de existirem as modernas embarcações transatlânticas ou, ainda, da cartografia anterior aos satélites.

É neste jogo de sofismas aonde são manipulados todos os fatos hediondos do nosso cotidiano: Candelária, Vigário Geral, Carandiru, Esquadrão da Morte, Corruptos do Orçamento, Camarilha do Governo Collor, Extermínio de Crianças, etceteras e etceteras...
Que fique claro: falar em assassinatos de índios no Brasil é pleonasmo. 

Conta um mito dos índios Hixkaryãna que um cidadão desafiando a luz do sol, afirmou não ser verdade que o sol alimentava todas as coisas de nossa Terra, água, plantas, pedras... e pôs-se a desafiá-lo cara a cara, horas a fio, mergulhando inexoravelmente nas trevas, "e seu rosto empretejou de escuridão". Alguém ainda tentara persuadi-lo, quando um outro alguém aconselha: "Deixe-o, não se preocupe, ele é apenas um tolo". Em outras palavras, este mito quer dizer: "cego é aquele que não quer ver".

Em nosso país, nos tempos da férrea ditadura, muitos cidadãos foram assassinados, torturados e quando os parentes e a sociedade cobravam do governo, recebiam a solene resposta: "Não existe tortura, nem presos políticos no Brasil". Quando o jornalista Vladimir Herzog apareceu morto numa cela de prisão, apesar da foto mostrar ser impossível alguém se suicidar daquele jeito, revelava-se o lado espetacular dos assassinatos sob tortura. Levou anos para que a família de Herzog e a sociedade brasileira tivessem uma resposta honrada diante daquele odioso crime.

O tolo que encara o sol e perde a luz do conhecimento é o mesmo que não consegue entender os povos indígenas. É o caso do sr. Janer Cristaldo, no artigo "Os Bastidores do Ianoblefe" ("Mais", 24/04/94; não nos interessa comentar o outro artigo, "Mais", 8/05/94, onde só reafirma suas bravatas lombrosianas) quando tenta, como aqueles senhores que ainda negam o Holocausto praticado pelos nazistas, câmaras de gás, os campos de concentração, apesar dos filmes, fotos, livros, depoimentos dos sobreviventes...

Massacres na verdade, é apenas o lado espetacular dos fatos. Por exemplo, quando se fala em garimpo apenas ficamos com a imagem do garimpeiro fugidio, ou com aquela visão de Serra Pelada, no Pará, e seus 80 mil garimpeiros misturados à lama catando e juntando ouro com as próprias mãos.

Os garimpeiros são os miseráveis que avançam para fora das fronteiras nacionais em busca do Eldorado, monitorados por interesses que desconhecem, os poderosos grupos de atividades minerais. O fato é que na bacia amazônica hoje, o garimpo está erodindo os solos e bloqueando cursos d'água com lodo. A Organização Mundial da Saúde anuncia que mais de um milhão de pessoas estão hoje, na Amazônia, envenenadas por mercúrio.

O massacre de Haximú é aquela mesma imagem espetacular da Serra Pelada, encobrindo os verdadeiros conflitos. No caso Haximú, importa se foram "19, 40, 73, 89, 120, e finalmente 16 cadáveres chacinados?" (vide frase do sr. Cristaldo) Imaginem se 16 membros de sua família tivessem sofrido todo tipo de sevícias, ou colocados como reféns por bandidos que invadiram a festa de aniversário em sua casa. Estes bandidos não mataram todos os 25 convidados ou membros de sua família, mas mataram e seviciaram apenas 16 membros de sua família. faz diferença? Hitler não matou oito milhões de judeus mas foram apenas seis milhões. Faz diferença?

Esta contabilidade em que muitos gostam de embarcar é evidentemente, uma contabilidade contando juros e lucros para aqueles que estão explorando as riquezas no território ianomâmi. Que tal uma CPI da exploração do ouro na bacia amazônica? Que se esclareça logo de uma vez o que é garimpo e o que é mineração.

É o que importa se o massacre foi no lado do território da Venezuela ou do Brasil, pergunto? Isto seria hipocrisia, pois querem todos acreditar que lá, naquelas lonjuras, vive-se o jogo da terra de ninguém e o que vale é o ouro. E mata-se por ele como foi o massacre dos ianomâmi de Haximú.

E vejam só. O sr. Cristaldo ao querer colocar os índios como inimigos mortais da Nação, cita o caso dos índios Waimiri-Atroari, justamente aqueles que nos anos sessenta, vendo suas terras invadidas por interesses de mineradoras, reagiram à invasão matando e morrendo. A morte do sertanista Gilberto Pinto (1974) e seus companheiros "pelos Waimiri" é um mistério. O sertanista foi morto a tiros e os índios Waimiri-Atroari não possuíam e nem sabiam usar armas de fogo. O enterro de Gilberto Pinto, em Manaus, foi feito por policiais militares, numa urna mortuária lacrada, e os familiares de Gilberto tentaram em vão conseguir ver o corpo ("Waimiri-Atroari – a história que ainda não foi contada", de José Porfírio F. de Carvalho, Edição do Autor, 1982, págs. 85 a/105). Lembro mais: Tudo isso foi naquela época, a do cerceamento das liberdades de expressão e comunicação. O que aconteceu? Lá está instalada a Paranapanema S/A explorando cassiterita na terra dos Waimiri-Atroari. E lembro ainda mais os txucarramãe tiveram uma história parecida, assediada por fazendeiros. Esse grupo caiapó começou a sentir suas terras encurtando sob seus pés, reagiram, mataram e foram mortos, até ganharem um pedaço de terra no parque do Xingu.

E lembro mais: em 1985 outros índios, também caiapós, no sul do Pará, frequentaram as manchetes da imprensa nacional como inimigos mortais dos recém chegados fazendeiros, madeireiros e garimpeiros. Os caiapós reagiram matando. E morrendo.

Hoje, na cidade de Redenção, sul do Pará, os caiapós transformaram-se nos maiores correntistas e aplicadores econômicos da região. Aliás, Paulinho Paiakan é um dos dinâmicos caciques empresários que empregam brancos e índios em seus inúmeros negócios, fazendo surgir uma massa indígena ávida de consumo, deixando o comércio local excitado e a população regional com água na boca.

A história dos ianomâmi não se diferencia das outras acima lembradas. O verdadeiro massacre dos Yanomami vem acontecendo desde a chegada dos garimpos em seu território no início da década de oitenta, quando já morreram 15% de sua população que era de 20 mil pessoas (Brasil/Venezuela).

O garimpeiro é a nesga, é também o lado espetacular de uma tragédia nacional brasileira. Por que não se propõe uma sociedade com os índios, cria-se um fundo, divide-se os lucros, investindo em infra-estrutura (educação e saúde) procurando outras técnicas que não sejam estas que estão erodindo os solos, envenenando os rios e matando as pessoas que deles usufruem para sua vida? Quem sabe, se as mineradoras repassassem as riquezas do território ianomâmi para os índios, em breve surgiria um deles com câmera na mão e uma idéia na cabeça para contar os bastidores desta história. Assim como fez Steven Spielberg em "A Lista de Schindler".

Ainda assim alguns tolos haveriam de continuar encarando o sol, mergulhando suas faces nas trevas da infâmia.

AURÉLIO MICHILES roteirizou e dirigiu "DAVI Contra GOLIAS" (sobre o massacre dos Ianomâmi em Haximú, 1993).

NOTA
Yom Hashoá significa em hebraico "Dia do Holocausto".


sábado, 17 de agosto de 2013

THE BLING RING... A GANGUE DE HOLLYWOOD


Não perdi tempo para ir assistir o último filme de Sofia Coppola que é também co-roteirista de “BLING RING: A GANGUE DE HOLLYWOOD”.

Sofia Coppola é uma cineasta de sutilezas, mete o dedo na ferida alienante e alienada da sociedade contemporânea como se ela tivesse dedos precisos de um cirurgião, desde o pertubador ”As Virgens Suicidas” ou no enigmático salto na solidão de “Encontros e Desencontros” (2004). Agora, neste filme “Bling Ring: A Gangue de Hollywood” ela nos leva a conhecer com intimidade de privilegiado observador da trajetória criminosa de uma das quadrilhas mais alienadas de nossos tempos, ou como se auto define o personagem masculino “Marc” (Israel Broussard):

“- A América sempre teve uma profunda atração por personagens como Bonnie and Clyde”.

Estrelado por Emma Watson (“Hermione -Harry Potter”) e participações especiais de Paris Hilton e Kirsten Dunst (a protagonista de “As Virgens Suicidas”). O filme é baseado no artigo da premiada repórter Nancy Jo Sales, publicado na revista Vanity Fair,“The Suspects Wore Louboutins“.
 

Os integrantes da gangue de adolescentes faz parte dos bem nascidos e endinheirados de Los Angeles, mas e talvez por isso mesmo obcecados por seus vizinhos celebridades. Numa fantasia em que se mistura hipocrisia religiosa e familiar, esses promissores estudantes dizem frases do tipo: 

“- Hoje estou com vontade de roubar” ou “- Vamos as compras!”. 

Frases como estas serviam de senha para assaltarem as casas de celebridades e roubar-lhes os ícones de consumo: Prada, Chanel, Marc Jacobs, Tiffany, Rolex, Cartier...

Tudo isso acontecia sem que os pais se dessem conta, mesmo que eles ostentassem as roupas e os outros itens de alto luxo. Nesta arriscada e fútil brincadeira, a gangue entre 2008 e 2009, roubaram o equivalente a 3 milhões de dólares em roupas, jóias e peças de arte de personalidades como Paris Hilton, Lindsay Lohan, Orlando Bloom entre outros.

Ao final da sessão não tinha como deixar de fazer um paralelo deste filme de Sofia Coppola com perturbador “Laranja Mecânica” de Stanley Kubrick, onde o adolescente Alex lidera uma gangue que assalta e espanca as suas vítimas. A diferença que Kubrick (ou Antonhy Burgesse, autor do romance original) localizava como uma história de uma sociedade futurista.

Ao contrário deste filme de Sofia Coppola que dialoga com os tempos das redes sociais, da busca on line, google maps, essas são as ferramentas e, não mais os "pé-de-cabra" que facilita alcançar mais rápido o sonho em conquistar objetivos pretendidos, nem que seja por meios ilícitos.
 

A própria opção narrativa da Sofia Coppola é "voyeuer", observa e deixa rolar, meu deus, quanta futilidade... A violência não tem classe social, pátria, raça ou religião, mas o pior delas pode ser a banalidade consumista... O auto massagear do ego, do narcisismo, do auto-amar...eu me amo, a mania de fotografar tudo e a si mesmo a todo instante e postar publicamente.

Como previu o poeta e cineasta italiano Pier Paolo Pasolini, neste artigo escrito em 1969:  “Para o novo capitalismo, é indiferente que se creia em Deus, na Pátria ou na Família. Com efeito, ele criou seu novo mito autônomo: o Bem-estar. E seu tipo humano não é o homem religioso ou cavalheiro galante, mas o consumidor feliz por ser tal”.(*)
 

Ou seja, a ideologia que tem mobilizado o imaginário das gerações desde o fim do século XX e início século XXI é: Consumismo.
 

Como escrevi acima, mas agora concluindo, os filmes “Laranja Mecânica” (A Clockwork Orange de Stanley Kubrick) e “Bling Ring – A Gangue de Hollywood” (Bling Ring, de Sofia Coppola), o primeiro realizado em 1971 e o segundo em 2013 prefiguram essa banalidade alienante em que os tempos atuais se vê/ver confrontado.
(*) "Festividade e consumismo", nº.1, ano XXXI, 4.01.1969. Caos - Crônicas Políticas, P P Pasolini, Ed. Brasiliense, 1982. Trad. Carlos Nelson Coutinho.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

ARNALDO CARRILHO, UM EMBAIXADOR DO CARALHO

Uma homenagem a um amigo que partiu, e que felizmente consegui te-lo por perto, mesmo que fosse por tão pouco tempo. Mas ficará na memória nossos dias de confraternização quando por aqui passava (São Paulo). Carrilho, escrevia e-mails como quem escrevia cartas, e elas são documentos importantes da memória de um tempo. Aqui uma delas.


Arnaldo Carrilho (1937-2013)
08/12/08
      

     Como, pelo exercício de funções públicas, desde 1958 (Conselho do Desenvolvimento - PR), devo lidar com todos os tipos de gente, na qualidade de diplomata. A partir de 1961, fui trabalhar na antiga DDC (Divisão de Difusão Cultural), unidade do Departamento chefiado pelo então Ministro Lauro Escorel de Moraes (pai de Eduardo e Laurinho). 

     Coube-me substituir Carlos Peres, à época doublé de diplomata e cronista teatral na Tribuna da Imprensa, como Subchefe da DDC e encarregado de uma Seção de Difusão Cinematográfica. Nessa qualidade, apesar de minhas preferências pessoais pelo Cinema Novo, movimento a que me integrei ao conhecer Glauber em Buraquinho, recebia em minha sala, no 3º andar do Itamaraty, quase todos que faziam cinema naqueles idos, inclusive funcionários da TV-Rio (Canal 13). O pessoal da Tupi não aparecia naquelas bandas, desinteressado nas primeiras difusões quinzenais de videoteipes noticiosos e programáticos na América Latina.
          
   Cineastas do Brasil inteiro iam ter comigo, inclusive chanchadeiros e dramalhoneiros. A lista seria interminável, mas arrolo nomes como J.B. Tanko, Mario Civelli, Carlos Manga, Irmãos Santos Pereira, Rubem Biáfora, Walter Hugo Khoury, Roberto Santos, Oswaldo Massaini (produtor), Roberto Pires, Linduarte Noronha, Ramiro Mello e assim por diante. O Serviço Público exige absoluto e total ecletismo do servidor, de vez que os serviços audiovisuais que tínhamos e temos são parte de uma atividade nacional. Claro que havia muita picaretagem no ar, geometricamente multiplicada nestes tempos de uma economia bem maior que a dos inícios doas anos-60.
          
      Além disso, cabe recordar que, na órbita federal, só cuidavam do setor a Seção que eu dirigia, o SCDP do DFSP (o Serviço de Censura de Diversões Públicas cobrava Cr$ 0.30/metro linear dos filmes que lhe eram submetidos, sem o que não obteriam o mandatório certificado de liberação), um Grupo de Estudos criado por Janio Quadros (GEICINE), do qual fazia eu parte, como Representante do MRE, e uns desvãos produtivos e arquivológicos em certas Pastas, como a da Agricultura, Guerra, Agência Nacional (herdeira do DIP estadonovista), qual mais? 

      Claro que não existiam um INC, em atividade só em 1967, muito menos uma Embrafilme. O Itamaraty contava com boas verbas, para difusão cultural, desde 1958, e funcionários como J.O. Meira Penna, Wladimir Murtinho, Lauro Escorel, Jorge Maia, Everaldo Dayrell de Lima e Mario Dias Costa, os quais inauguraram a contemporaneidade em suas tarefas de difusão do País no exterior.
          
   Outras funções que eu exercia eu eram as de Secretário-Executivo da Comissão de Seleção de Filmes para Festivais Internacionais de Cinema e Coordenador do Seminário de Cinematografia, a cargo de Arne Sucksdorff, em coordenação com a UNESCO e a DPHAN-MEC. O Brasil era um País mais inspirado que o de hoje: a segunda metade dos anos-50 e a primeira da década seguinte viram o surgimento de grandes feitos culturais: o lançamento de Grande Serão: veredas, o triunfo, com Brasília, do episódio brasileiro (1937-57) da Arquitetura internacional, o concretismo e neo-concretismo, "Rio 40 graus", "Rio Zona Norte", "O Grande Momento", "Osso, Amor e Papagaios", "Na Garganta do Diabo", o futebol-arte da Copa na Suécia, a Bossa-Nova, os anos-JK, a OPA e os primeiros ensaios de uma PEI (Política Externa Independente), em suma, para ficarmos por aí, era entusiasmante ser brasileiro (tinha eu 20 anos, em 1957). Sem qualquer laivo de nostalgia besta, aquele País não mais existe, foi-se, e só as obras que ficaram, já que as memórias são trôpegas, o testemunham.
          
      David Neves, amigo de François Truffault, que esteve no Rio pouco antes de Cannes-62, assim como J.-L. Godard antes ainda, muito se interessou pela (re-)nascente produção cinematográfica entre nós. Adivinhou que "algo" se passava com aquele Brasil, que não era apenas o vu de Billancourt, à maneira de Marcel Camus (a propósito do Orphée Noir). O verdadeiro "Embaixador do Cinema Brasileiro" foi David E. Neves, não era eu, muito menos o Cosme Alves Neto. Era politicamente necessária a escolha d'O Pagador para Cannes, era desaconselhável ou tecnicamente inviável o envio de "Os Cafajestes" ou "Barravento" para o antigo Palácio na Croisette, se bem que o primeiro não figuraria mal na competição, como "etapa" de abertura do Brasil ao mundo das luzes e sombras. O filme do Anselmo era correto, mas longe do vanguardismo, da linguagem nova que preconizávamos. Concretamente, a Comissão itamaratyana decidiu bem, pois ficamos com a Palme d'Or, por mais que a premiação nos contrariasse. O fato de o Anselmo ter empregado seus encantos (fator-AD ) para cima da Christiane de Rochefort não tira nenhum mérito na premiação. Claro que o tempo iria encarregar-se de desvendar que ele não lograria ser "o Cineasta do Brasil", como sabíamos de antemão. Quando nos apresentou "Veredas da Salvação", isso ficou patenteado. Se outro fosse o seu destino, Anselmo seria nosso melhor telenoveleiro.
          Grave foi 1964 (pouco antes do golpe burguês, equivocadamente apelidado de militar, porque marechais e generais, à exceção de Ernesto Geisel, desempenharam nele a função de guardas pretorianos, ao longo de quase 21 anos). Selecionamos "Deus e o Diabo na Terra do Sol"  para Cannes e "Vidas Secas"  para a Mostra de Veneza. 

      Impaciente e despeitado, Luiz Carlos Barreto arranjou telegrama do Favre Le Bret para convidar o filme do Nelson na competição. Protestei, em vão, certo de que um o outro obteriam, respectivamente, uma premiação significativa na Riviera ou na Cidade Lagunar. Ambos foram um sucesso, mas confundiram as meninges do Júri, que preferiu galardoar Les parapluies de Cherbourg...
          
   Encerrava-se com isso tudo a política cinematográfica do Itamaraty. Pedi Posto e fui para Roma, o Chanceler Vasco Leitão da Cunha nomeando-me Diretor do Centro de Difusão e Distribuição Internacional do Cinema Brasileiro. Invejoso, o então Adido Cultural à Embaixada em Paris (Guilherme Figueiredo) denunciou-me ao SNI, amparado no Brasil per Antonio Moniz Vianna e Ely Azeredo. Toda a atividade produtora e seletiva do Itamaraty passou para o INC. Amargando todos as imediatas conseqüências do 1º de abril e as investidas invejosas do irmão do Coronel João Baptista de O. Figueiredo, que encontrou respaldo na figura do novo Chefe da DDC (Vasco Mariz, sucedido depois por Vera R. do A. Sauer), foi tudo por água baixo.

Abraço do
Arnaldo C.

P.S.: em tempo, o CPC-UNE era contrário ao Cinema Novo. Seus ideólogos (pecebista e outros) não aceitavam a corrida desabalada de Manoel-Vaqueiro em direção ao Nada (não entenderam que aquele Mar era revolucionário), Ferreira Goulart a Vianninha a vociferarem burramente, com o nihil obstat do católico José Serra, tudo dias antes do golpe. Arnaldo Jabor era de esquerda, sim, comunista da Urca, se quiserem, filho de Oficial da Aeronáutica, mas de esquerda, sejamos justos, ó geração soixant'huitarde pós-moderna!Não julgai os parametros de então com os de hoje! Quanto ao Cinema Novo - expressão criada, em pejora, por Ely Azeredo -, o movimento começara, sim, com Rio 40 graus, Rio Zona Norte, os primeiros curtas de Saraceni, Cacá, David, Joaquim, Leon, Mario, Linduarte, Ramiro, Roberto Pires, Olney e os longas que se sucederiam. A meu ver, terminou em 1964 mesmo. As maravilhas produzidas e lançadas até 1985 ("Memórias do Cárcere", "Imagens do Inconsciente", "Nem tudo é verdade" e outros) não mais eram a "regra", mas iradas exceções. É preciso que se ponha nas cabeças brasileiras que o pós-modernismo estraçalhou as vanguardas, como a terrível, estapafúrdia e medíocre década dos 80 o comprova.  

segunda-feira, 24 de junho de 2013

O HOMEM CORDIAL PERDEU A PACÊNCIA

Incrível...são esses dias, mês das fogueiras, mas desta vez foram as manifestações populares que incendiaram o Brasil. As ruas, avenidas, praças, praias, monumentos invadidas pela multidão...um sonho realizado, mas logo me pergunto e depois? Indago-me novamente não consigo escrever, postar e colaborar de alguma forma com o debate. E a ironia está aqui...                         

Encontro-me tomado integralmente num complexo trabalho para terminar o meu filme "Tudo Por Amor Ao Cinema", e neste mesmo filme existe momentos que se refere a isto...lutar por um sonho. São opções que somos obrigados a fazer. Dois dos meus filhos se encontram nas ruas, e o terceiro (11 anos) em casa participa de orelhada: 

"- Vamos lá pai!". 

Penso, nos meus 12 anos havia uma ditadura no Brasil, e em casa meus pais acuados faziam de um tudo para os meus irmãos mais velhos não se exporem. "Cala a boca", "olha o que falas por aí", "cuidado com os dedo-duros","não dê murro em ponta de facas"... E quando consegui ir para as ruas em 1968, a coisa havia assumido proporções de altos riscos, não era somente a liberdade de cidadão, mas sobretudo a VI-DA. 

Ouso e me arrisco re-escrever ao fazer um paralelo ao poema “Howl/O Uivo”, de Allen Ginsberg: "vimos os melhores da nossa geração morrer por seus ideais, torturados, drogados, desiludidos e...o melhor: 

"SEJAMOS REALISTAS, PEÇAMOS O IMPOSSÍVEL!" 

É este o oxigênio que não podemos perder, não podemos também esquecer que a geração que se encontra no poder com todos os equívocos e desilusões (e até mesmo traições) foram eles que lutaram para esta multidão manifestar-se livremente, e isto não podemos perder. Devemos cobrar, exigir, não deixá-los no êxtase da letargia adesista. Eles foram picados pela cantilena do neo-liberalismo econômico, este que nega a sociedade e eleva o indivíduo como energia da acumulação da riqueza.. Felizmente na contra-mão deste modelo econômico  afirma-se a comunhão do Homem com o Meio Ambiente, donde temos retirado toda a nossa riqueza cultural e espiritual. E este foi uma das questões que o atual governo brasileiro distanciou-se, optando pelo "tal progresso a qualquer custo". 

Soma-se a isso os desmandos e frustrações advindas do pacto de "governabilidade" (corriqueiro na política brasileira) entre o grande capital e os governantes oriundos de um partido que surgiu de um ideal libertário. E, por ironia as conquistas sociais e econômicas dos últimos 10 anos fazendo milhões de brasileiros a ascender socialmente, tendo acesso aos bens de consumo, são essas pessoas que se encontram tambem nas ruas a reivindicar melhoria nos serviços públicos, este que não acompanhou o processo de de riqueza da nação, necessidades sempre jogadas debaixo do tapete administrativo, por exemplo: saneamento básico, transportes públicos...Essas frustrações secular transformou-se num tsunami, numa festa participativa que tomou conta da realidade e do imaginário brasileiro - norte-sul, leste-oeste. E, num plano maior das nossas reflexões nos leva a crer que esse fato veio contradizer os bobocas, aqueles entusiastas do "fim da história" ou "fim da utopia"..

A máxima do século XIX continua atual: 
"O HOMEM É UM ANIMAL POLÍTICO". 

Elas, as utopias, são a argamassa da realidade, sem a qual não se chega a lugar nenhum. Só nos resta celebrar...que as ruas sejam a liberdade e não a armadilha da perda desta mesma LIBERDADE.  

Temos consciência de tudo isto, e é em nome disto que, a juventude brasileira deseja mudanças, suas exigências são múltiplas, acumuladas desde dos seus antepassados, e nunca atendidas, sempre atraiçoados, sempre reprimidos. Choca assistir a violência cega, descontrolada acuando a polícia, maculando prédios, monumentos...Mas é preciso que se diga, hoje como ontem mata-se e morre-se em grandes escalas, em espetaculares cenários e com formidáveis máquinas de guerra tecnológica, mobilizados em nome dessa falsa utopia dos nossos tempos: a utopia liberal, esta que enaltece o egoísmo como fonte de bem comum, fruto de um pretenso (mas falso) modelo libertador. Aí está a fonte imediata de todas as revoltas que ronda o planeta sob um mesmo nome: a mobilização por melhores condições de vida urbana, contra a corrupção, contra os privilégios de grupos e autoridades do executivo, legislativo e do judicário

E que assim seja.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

O CANGACEIRO - FILME DE LIMA BARRETO

Em 12 de Maio de 2013, completa 60 anos que “O CANGACEIRO” ganhou o prêmio de Melhor Filme de Aventura e de Trilha Sonora no FESTIVAL DE CANNES. 





Foi o primeiro filme a conseguir visibilidade mundial para o nosso cinema. E é possível que tenha sido o único filme de nossa produção que forjou uma cultura de gênero: filme de aventura brasileira - cangaço.

A geração do cineasta Lima Barreto e do músico Luiz Gonzaga, o Rei do Baião foi influenciada pelas aventuras deste bando de cangaceiros liderados por Lampião e Maria Bonita, eles se destacavam de tantos outros cangaceiros por causa das suas indumentárias: chapéu de couro, brocado e espelhado e estrelado com pedras preciosas, lenço de seda (de tafetá francês ou seda inglesa), anéis de ouro, prata com pedras preciosas, casaco, calças e sandálias de couros típicas dos sertanejos do sertão da caatinga, bornáu e cantil eram forrados com panos bordado com flores e estrelas. Sob esta vaidosa apresentação, o bando era implacável em suas investidas nos lugarejos e cidades que invadiam e saqueavam. Muitas as vezes, os cangaceiros encontravam-se a serviço dos interesses políticos dos grupos oligárquicos que dominavam o nordeste.

A morte por emboscada do bando de Lampião e Maria Bonita, transformou-os em lenda, sobretudo a espetacular e macabra apresentação: suas cabeças ficaram exibidas ao público durante décadas em Salvador-BA.

Não foi por acaso que o sucesso de O Cangaceiro, veio de encontro as espectativas do imaginário brasileiro sobre este evento "nordestino". E, melhor o sucesso deste filme não se restringiu ao Brasil, mas tambem nos 80 países onde foi exibido. Somente em Paris ficou em cartaz por vários anos. O Cangaceiro virou febre: música (“Mulher Rendeira”), histórias em quadrinhos e muitos outros filmes (nacional e estrangeiro) viriam abordar essa temática de “western” brasileiro, desde Mazzaropi a Glauber Rocha. 


Mas apesar de todo este sucesso os rendimentos obtidos pelo filme ficou com Columbia Pictures que havia adquirido os direitos de distribuição. 

A Companhia Cinematográfica Vera Cruz foi a falência.

UMA CURIOSIDADE: "O Cangaceiro" foi filmado no interior de São Paulo, no município de Vargem Grande do Sul (Salto, Itú).

O CANGACEIRO (1953), direção e roteiro de Lima Barreto. Com diálogos de Rachel de Queiroz.  

Com:
Alberto Ruschel
Marisa Prado
Milton Ribeiro
Vanja Orico
Adoniran Barbosa e grande elenco.
Música:  Gabriel Migliori
(Canção "Mulher Rendeira" interpretada por Vanja Orico e Demônios da Garoa)
Diretor de fotografia: Chick Fowle
Figurino: Carybé e Pierino Massenzi

Montagem: Giuseppe Baldacconi, Lúcio Braun, Oswald Hafenrichter
Produção: Companhia Cinematográfica Vera Cruz
Distribuição: Columbia Pictures

segunda-feira, 29 de abril de 2013

PAULO VANZOLINI - CRAVO BRANCO

Salve Vanzolini! 
O samba e a ciência te saudam!

PAULO VANZOLINI - LEVANTA SACODE A POEIRA E DAR VOLTA POR CIMA


O samba e a ciência se encontram em silêncio. E o personagem deste silêncio, com certeza, não aprovaria. 

Dr. Paulo Emilio Vanzolini, Paulo Vanzolini, Vanzolini, Vanzo...cientista e sambista, "um homem de moral" como o cineasta Ricardo Dias intitulou um dos seus docs sobre este extraordinário personagem da ciência e do samba.

Uma das maiores alegrias que tive quando vim morar em São Paulo (1984) para integrar a equipe de criação do "GLOBO CIÊNCIA", foi ter conhecido Vanzolini, e não somente isso, ter integrado o círculo íntimo (privilégio) deste brasileiro. Não foi fácil conquistar a sua confiança e amizade. Nas reuniões de editoria do programa, havia alguns tabus, um deles era conseguir que Paulo Vanzolini desse uma entrevista para um programa da TV Globo, e também, transformar a sua pesquisa científica num assunto palatável à diversidade de telespectadores. 

Considerei esse tabu (preconceito?) uma excelente oportunidade para conhece-lo e tornar realidade a tese de que muitas vezes o hermético é uma questão de ponto de vista. Como um sambista pode tornar a sua pesquisa científica num incompreensível? Havia algo aí que merecia mais atenção das pessoas. 

Não seria a primeira vez que o veria, mas ele não sabia. Em 1970, ainda estudante secundarista, estive em sua casa, acompanhado pelo líder estudantil da UnB, Honestino Guimarães (hoje um desaparecido político), não recordo os motivos, mas deveria ser algo em relação a militância da Ação Popular, um dos seus membros parece namorava uma das filhas do Vanzolini. Nesta oportunidade o vi de relance na casa, ele passou por nós, cumprimentou-nos e sumiu casa adentro. Agora, encontrava-me a sua procura...

Ligo uma vez, outra vez e outras vezes e até que sou atendido por sua secretária, pede o meu nome, o assunto e promete que irá repassar ao Dr. Paulo Vanzolini. Insisto na ligação alguns dias depois...a secretária comenta que ele não tem interesse na gravação. 

Passado mais muitos dias, insisto novamente. E aí, por acaso (?)  é ele mesmo quem atende. Apresento-me. 

"- Quem é mesmo?" 
"- Aurelio Michiles". 
"- Michiles? Aquele Michiles da viagem do casal Agassiz?" 
"- Sim, ele é o meu bisavô, eles foram hóspedes em sua casa quando estiveram em Maués". 

Vanzolini estava se referindo ao livro "Viagem Ao Brasil, 1865-1866" de Luiz e Elizabeth Cary Agassiz, casal de cientistas norte-americanos que visitaram a Amazônia. A partir daí foi só remanso.




Quando retornei ao núcleo do Globo Ciência, quase não se acreditou. Ricardo Dias, um dos diretores do programa logo me acompanhou na próxima visita e em seguida gravamos os primeiros depoimentos antes da nossa viagem para o Amazonas. Depois, tudo é história, inclusive por que o Ricardo (cineasta e biólogo) realizou três documentários com/sobre o Vanzolini.

Foram alguns "globos ciências". E, por conta disso, viajamos várias vezes na selva, rios e lugarejos amazônicos, e cada uma destas vezes foi como fossem únicas. Compartilhamos da sabedoria deste "último dos viajantes amazônicos", ele que por mais de meio século, desbravou-a, conhecendo-a como a palma das suas mãos (literalmente). 

E mais...durante estas viagens ouvir VANZO contar e recontar suas histórias, aventuras e descobertas de vida, que privilégio! Muito obrigado, amigo Vanzolini, foi (é, será sempre) muito bom ter compartilhado da tua generosidade e gula do VIVER.

domingo, 21 de abril de 2013

REFLEXÕES DOMINICIAIS SOBRE A POLÍTICA NACIONAL

                                                              - Intervenção conceitual e artistica de Xico Chaves -
                     João Carlos Rodrigues
                     há 2 horas · FACEBOOK
 

 Reflexões dominicais sobre a política nacional

Não é do meu feitio falar de política no Facebook, mas não resisti. Vamos lá.

Existem atualmente no Brasil dois movimentos que podemos verdadeiramente chamar de direita. Os ruralistas e os evangélicos. O primeiro, composto em sua maioria por empresários do florescente agronegócio, faz oposição ao governo. O segundo, que emerge das classes desfavorecidas com graves traços de intolerância, são mais divididos, mas em geral estão na base do governo.

Ruralistas tem muito dinheiro. Evangélicos pentecostais tem muitos eleitores. Cerca de 30%, desempatam qualquer eleição. Se e quando essas duas forças se unirem, teremos um movimento de direita com base popular e financiamento farto. Isso não acontece desde os anos 1930 quando surgiu a Ação Integralista, mas esta, então favorecida pela ala conservadora majoritária da igreja católica, tinha um grande embasamento intelectual, o que ainda falta à essa nova direita nacional. O ideólogo carismático da Reação.

É importante e me parece também grave. Se conseguirem atrair aquela parcela oportunista para a qual “há governo? sou a favor!”que atualmente gravita em torno da administração Dilma Roussef , e eventualmente ganhar uma eleição, não será nada bom para o país. O trabalho preparatório está sendo realizado sem perceber pelo atual governo, que por um lado cede aos conservadores e corruptos para manter a governabilidade (desmerecendo ainda mais o Congresso, já pouco representativo pela falta do voto distrital puro em dois escrutínios), mas por outro incita a luta de classes (nordestinos contra sulistas, pretos contra brancos, empregados contra patrões). Me parece uma contradição que um governo cuja base de apoio inclui Sarney, Barbalho, Kassab, Collor, Renan, bispo Macedo, os irmãos Gomes e Serginho Cabral (entre outros) ainda se considere e seja considerado progressista. Este sonho já acabou. Está na hora de acordar.


Se o caos for instaurado com a perda do controle da inflação (o que parece que já começou), a direita ganhará, infelizmente. E quando falo direita não estou falando no PSDB nem mesmo no DEM, social-democratas e liberais, mas de uma coalizão ruralistas + evangélicos. Algo nunca visto antes por essas plagas.

Não estou apoiando nenhum partido ou candidato. Apenas observando. Tudo sempre pode ficar pior do que já está. Olho vivo, antes que seja tarde.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Morrissey - Margaret On The Guillotine

                          (para ouvir clic no link/título)


Morreu MARGARETH THATCHER - "A DAMA DE 
FERRO". 

Esta mulher que foi rejeitada pela aristocracia britânica durante a sua juventude, mostrou a nobreza do império decadente, o qual funcionava a partir das riquezas coletadas e exploradas nos países que dominavam, que ela, apesar da sua modesta origem de classe tinha a fórmula da salvação do "império britânico".. A fórmula funcionou, a conta ficou azeda para a política do "bem-estar social", aqueles que de certa maneira eram os seus pares. Thatcher, ganhou respeito pelo serviço sujo. Afinal ela assumiu fazer o implacável e cruel desmanche das conquistas trabalhistas do pós-guerra. E, foi o que fez, neutralizou as forças coletivas da sociedade e incentivou o individualismo consumista.

Em parceria com Ronald Reagan assinaram o "Acordo de Washington", e isto nada mais foi do que tornar hegemônico o poder militar e econômico dos EUA. O resultado ou o rastro daquilo que realizaram encontra-se espalhado por todo o planeta: desemprego, concentração da renda e o mercado paralelo de serviços, negócios e mão-de-obra (eufemismo de escravidão). 

Tornaram lícito os "paraísos fiscais", onde os ricos para se protegerem dos "impostos" criados pela politica do "Neoliberalismo" guardam seus ganhos, elevando aos píncaros a corrupção mundial. 

Em síntese: incentivaram a especulação financeira em detrimento da produção:

"NÃO EXISTE ESSE NEGÓCIO DE SOCIEDADE. EXISTEM APENAS HOMENS E MULHERES INDIVIDUAIS, E HÁ FAMÍLIAS.

domingo, 7 de abril de 2013

Juca Filho - Dabacuri 1982


      http://youtu.be/DgepVKRKqwo
                                     (Para ouvir clic no link/título)



       JUCA FILHO quando gravou o seu primeiro disco ("Juca Filho e... amigos músicos"), selecionou a música "Dabacuri" (Zé Renato - Aurélio Michiles), a qual descobri um dia desses fuçando no Youtube. E, ela tem uma história.

       Entre os anos 1976-1978 quando estudava Artes Cênicas na Escola de Artes Visuais-Parque Lage, conheci muita gente bacana, entre elas estava ZÉ RENATO (Boca Livre), naquela época todos nós estávamos disponíveis em busca de alguma visibilidade para os nossos trabalhos. E, foi quando escrevi um texto-dramático (na verdade era para ser um roteiro de um filme) sobre os índios brasileiros: 
"SUPYSÁUA. ÍNDIO AINDA ÍNDIO" 

      
         Nesta oportunidade Zé Renato  e eu fizemos várias composições, e, uma delas é esta, as outras continuam inéditas, mas "DABACURI" foi o canto que escolhemos para celebrar a manifestação "S.O.S. MAM" (1978), um desagravo contra o incêndio que destruiu o acervo. 

         O diretor da Escola de Artes Visuais-Parque Lage, o artista plástico Rubens Gerchman, convidou-me para organizar uma encenação com os alunos: Abaixo republico uma parte do post publicado aqui neste Blog Ceuvagem quando da morte deste talentoso artista brasileiro: 


     "Quando um incêndio (1978) no Museu de Artes Moderna do Rio de Janeiro -MAM, consumiu o seu milionário acervo, logo ficou escancarado a “tragédia” que rondava (e ainda ronda) as instituições culturais no Brasil. Encontrava-se exposta uma retrospectiva da obra do artista uruguaio Joaquín Torres Garcia...tudo virou cinzas. Rubens Gerchman, Mario Pedrosa, Ligia Pape, Zuenir Ventura, Ziraldo, Bibi Ferreira, Roberto Pontual, Ferreira Gullar, Antonio Callado e outras personalidades cariocas criaram o movimento “S.O.S. MAM”.

       O resultado foi uma manifestação popular em que se reuniram mais de três mil pessoas, desafiando as ameaças dos órgãos de repressão da ditadura, foram lidos dois manifestos, um por Ziraldo e o outro pela atriz Bibi Ferreira, neste manifesto fez-se uma relação metafórica com um incêndio na Amazônia (Pará), e que havia sido captado pelos satélites da NASA (noticiado naqueles dias) com o incêndio que consumiu em quarenta minutos o acervo do MAM.
     
     Foi durante este episódio que Gerchman convidou-me para criar e dirigir uma ação coletiva com os alunos do Parque Lage:
Aurélio Michiles, Ademar, Bia Bedran,Camilo, Cláudio Nucci, Evandro Salles, Fernando, Inês, Juca Filho, Luiza, Lucas,Marina, Nícia, Roberto Berliner, Rosana, Sheila, Paulo, Paula Pape,Vicente Barcelos, Zéca, Joelson (percursionista), Zé Renato (violão e voz).
            
           Com a participação das “baianas” das escolas de samba Beija-Flor e Portela e dos alunos da Academia Capoeira Angola de Mestre Morais. Centenas de pessoas carregavam faixas, atravessaram a passarela do Parque do Aterro do Flamengo e concentraram-se na marquise do MAM ao som de surdos e atabaques. 
          
        Em seguida nós, os alunos do Parque Lage, surgindo de vários pontos daquele espaço incinerado, cantávamosTERRA-TERRA (DABACURI)(Zé Renato e Aurélio Michiles), carregando uma faixa com a seguinte palavra: "TRABALHOVIDA"

        Na sequência encenamos a dramatização da obra de Joaquin Torres García – O PEIXE (uma das obras perdidas no incêndio), aonde podia-se ler: 
              
            "ARTINDOAMERICA"

quarta-feira, 3 de abril de 2013

YOANI SÁNCHEZ E O ASSASSINO DE CHE GUEVARA

          O agente da CIA, Félix Rodriguez, a esquerda de Che Guevara, pouco antes da sua execução.

         A blogueira Yoani Sánches se tornou a face mais visível e agressiva no confronto ao governo e aos ícones da "Revolução Cubana". Articulada e com raciocínio rápido como um tiro de fuzil, tem feito um estrago considerável na imagem emblemática da mais ousada transformação social, política e econômica da América Latina no século XX. 

        Cuba Revolucionária optou por um sistema econômica que nega o lucro e o consumo,  e, tornou-se uma pérola e uma pedra no sapato de barganha na divisão norte-sul (guerra fria) entre os USA e a URSS. Os primeiros fizeram de tudo para derrubar, aniquilar Fidel Castro, tentaram invadir a ilha com armas, soldados, sabotagens, assassinatos, corrupção e uma formidável máquina de contra-propaganda, mesmo assim, ainda hoje, Cuba, localizada logo ali do litoral da Flórida continua sendo uma desagradável realidade na hegemonia de poder mundial dos Estados Unidos da América do Norte. 

        E, eis que surge uma jovem, nascida e criada sob o regime socialista cubano, ela acusa com ferocidade os irmãos Castros, exige liberdade enquando escreve seus posts num Blog que circula pelo planeta com resultados não conseguido nem mesmo pelo implacável "bloqueio continental" imposto pelos EUA contra Cuba. O estranho desta personalidade do blogosfera é quando Yoani, por exemplo, exige que o governo brasileira condene os direitos humanos em seu país, mas por outro lado silencia-se quanto a ocupação da parte da ilha cubana (Guantânamo) pelos EUA, aí, encontram-se prisioneiras, sem nenhum registro legal, pessoas de várias nacionalidades (em geral de origem árabe), as quais são submetidas a todas as formas de sevícias físicas (torturas). Porquê? Uma resposta parada no ar, mas somente Yoani poderá responde-la.

       Daí, não ser nenhuma novidade que Yoani Sanchéz, em Miami, a sua última escala antes de retornar a Havana, ter sido ovacionada pelos exilados cubanos, mas não somente isso, Yoani se encontrou com Félix Rodriguez, cubano norte-americano agente da CIA que matou Che Guevara, e ainda orgulha-se de guardar o seu relógio, a bolsa de fumo do cachimbo e o sutiã de uma guerrilheira capturada e morta por ele.(*)  

(*) GUEVARA - Uma Biografia, Jon Lee Anderson, ed. Objetiva, 1997, RJ

PORTOS & JK & PLINIO RAMOS COELHO


Outro dia, Gougon, amigo de Brasília fez um relato no Facebook pra lá de bacana sobre a memória em que o líder estudantil e desaparecido político Honestino Guimarães é protagonista. Adoro memórias...tenho trabalhado com elas, uma forma de buscar identidades.


Hoje, especialmente, estou pensando sobre os PORTOS. Sim, "portos", esse elo poético, existencial e metafórico que une pessoas, margens, povos, tribos, civilizações...Nasci a beira de um porto - Roadway Manaus, Rio Negro. 



Desde criancinha ia passear ali, primeiro com as mãos dadas aos meus pais, sempre havia alguem embarcando, viajando... Depois, adolescente ia com meus amigos...receber a brisa do crepúsculo. Falávamos sobre tu-do e outras tantas coisas. Sabíamos que ali era a porta da nossa saída. Naquele tempo sentia-me um prisioneiro nos limites da província, queria conquistar outras margens. Aos 15, viajo pra Brasília, mas não pelos caminhos aquáticos, foi aéreo (Electra II-VARIG), aeroporto de Ponta Pelada.


Já em Brasília (1968), fomos eu e mais dois amigos (Enéas e Milton Hatoum) encontrar uma das nossas referências políticas amazonense. Sábado, almoço no apartamento de uma das pessoas mais poderosas (na época) do Amazonas, d. Lourdes Archer Pinto, cuja família controlava o império de comunicações no Estado. Aí, encontramos o ex-governador Plínio Ramos Coelho, cassado pelo Golpe de Estado 64. Plínio Coelho, advogado, destacou-se defendendo os trabalhadores e fundou o PTB - Partido Trabalhista Brasileiro. Ao menos para nós jovens estudantes, ele, era uma figura mítica. E, não somente por isso, era o pai de um dos adolescentes do nosso grupo (Plinio Jr). Ele, logo nos enquandrou dentro do ressentimento em que vivia, agora como um modesto fazendeiro:


"- Hoje, não me interessa a politica, prefiro meus porcos, a lama deles é mais saudável."

Mas, nós, jovens inquietos com a situação política brasileira e mundial, insistimos no assunto. O ex-governador topou, mas preferiu falar sobre a sua memória. Hoje, vejo o quanto foi importante. Sobretudo diante da paisagem industrial e urbana em do Brasil atual. O país encontra-se engarrafado, sem infraestrutura rodoviária que faça locomover a sua produção. Paralelo a esse cáos, faz décadas que contemplamos o desmanche da malha ferroviária e portuária brasileira.                              



        A ditadura da indústria automobilística se impôs, transformando o país num reflexo daquilo que aprendemos a ver em Brasilia - o homem dividido em "cabeça, tronco e rodas"... Lamentavelmente.
         
        E como ironia do destino, o atual relator da Medida Provisória 595, que estabelece um novo marco regulatório para os portos brasileiros, é o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM). Talvez, por isso, que a minha memória se sentiu mobilizada a refletir sobre aquele distante encontro com o ex-governador Plínio Ramos Coelho. É inconcebível como um país que detém em generosidade caminhos móveis (marítimos e fluviais) não conseguiu se modernizar para atender as demandas necessárias. Na minha infância e adolescência era possível sair de Manaus de navio, ir até Belém e depois seguir de ônibus até Brasília. 


     Hoje, em dia, quase não se consegue navegar confortávelmente entre as cidades dentro do Estado do Amazonas, aonde por mais incrível que possa parecer, inexiste uma Escola Naval.


     E o quê Plínio Ramos Coelho tem haver com isso? Sim, tudo, vou contar-lhes. Quando o governo JK convocou o país a incorporar-ser a modenrização, mostrou a indústria automobilistica como a chave deste futuro. O governador do Amazonas daquela época, era Plínio Coelho, e ele fez chegar ao presidente dos riscos que estaríamos correndo caso se optasse por um só caminho desevolvimentista - o rodoviário, abandonando os caminhos móveis. Plínio Coelho, foi ridicularizado.


        Os fatos atuais respondem por si mesmo. Os caminhos do desenvolvimento se encontram engarrafados, destruímos os fluviais, marítimos e os ferroviários. Em vez de agregarmos possibilidades, optamos pelo caminho do "Saci-Pererê", caminhar com uma perna só.

       E, foi essa lição que guardei da conversa com o governador cassado Plínio Ramos Coelho, hoje, é um personagem esquecido para os amazonenses. Mas a profecia dele, infelizmente, aconteceu.

"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

www.tudoporamoraocinema.com.br

Minha foto
Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.