terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

TV GLOBO - DOC HIGIENOPOLIS

Numa reportagem sobre manifestações audiovisuais nas comunidades de bairro na cidade de São Paulo, um do selecionados pela reportagem foi o docBairro "Higienópolis - Um recorte do Mundo" de minha autoria.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

PRAÇA TAHRIR (2011) E A PRAÇA DA SÉ (1984)






Ontem, 11 de fevereiro, enquanto navegava na internet acompanhando a queda da Ditadura Egípcia (Hosni Mubarak) após 30 anos de poderes absolutistas, as imagens já haviam se fundido ao imaginário popular com milhões de manifestantes acampados na praça Tahrir (Cairo).

Surge na tela de luz branca e fria o rosto impávido do vice Omar Suleiman, ele afirma que o Ditador renunciou...Um alívio? A resposta é NÃO. Ora, Suleiman é general, comandou o serviço de segurança do Egito, portanto (vá lá, mesmo que tenha diferenças), ele se manteve por três décadas como parceiro da ditadura. Agora vêm a publica (depois de pressionados durante 18 dias pela população)... Lá estava novamente a Imagem recorrente de Suleiman, um rosto sem expressão, parecendo uma máscara.Um Sarney.

Pela minha cabeça vem muitas referências...sou interompido por meu filho de 9 anos, acostumado a ouvir narrativas políticas ele me pergunta:

"- Pai quando a ditadura no Brasil acabou tambem foi assim, o povo foi pra rua?"

Até então não havia surgido na minha memória essa referência imediata com a queda da ditadura brasileira.

"DIRETAS JÁ!". Praça da Sé, São Paulo- Capital, 25 de janeiro de 1984.

Sim, fazia vinte anos em que o Brasil encontrava-se sob um regime de exceção, o país encontrava-se comandado pelo general Figueiredo, típica caricatura do carioca machista falastrão, a sua língua solta contrariava a sua trajetória pessoal, havia sido nada menos que o chefe do todo-poderoso e onipresente SNI-Serviço Nacional de Informação, os olhos e ouvidos da ditadura.

Naquele dia 25 de janeiro, meio milhão de pessoas se reuniram no "marco zero" da capital paulista, no dia em se comemorava o aniversário da cidade, mas elas não estavam aí pra isso, foi uma multidão para mostrar que estávamos fartos dos desmandos da Ditadura, queríamos democracia, liberdade - fim da corrupção, da inflação e do desemprego.

Queríamos e almejávamos um mundo melhor, ao menos pra nós brasileiros cansados de levar porradas em todos os sentidos.

A noite quando milhões de brasileiros reuniram-se em seus lares para assisitr TV e se informar dos últimos acontecimentos no Brasil e no exterior, pensávamos que esta seria a chance do movimento das "Diretas Já!" cair no domínio do povo, mas que nada, grande foi a frustração quando o "Jornal Nacional" (TV GLOBO) não noticiou.

Aquela reunião de meio milhão cidadãos paulistanos exigindo uma mudança no cenário político do país viu-se sonegado, aliás uma decisão tomada em conluio entre o proprietário das Organizações Globo, o jornalista Roberto Marinho com a censura da ditadura brasileira.

Mas não pensem que aquela multidão reunida na praça Tahrir, no Cairo tambem não sofreu tentativas em torná-la invisível da maioria da população. A máquina repressiva da ditadura egípcia tentou fechar agências de noticias, prender, assassinar e expulsar jornalistas que faziam os registros daquele movimento que tinha superado todas as expectativas, suplantado as velhas lideranças religiosas, militares e dos tradicionais partidos políticos. Um movimento que têm como evidência a juventude e esta havia sido mobilizada através da rede mundial das infovias, não teve quem e como impedir que esses sinais virtuais se propagassem e se transformassem em fagulhas reais exigindo transformações.

Talvez nunca num curto espaço de tempo um ditador ficou tão popular e odiado mundialmente como Hosni Murabak.

Mantida a proporção dos fatos (Praça da Sé,1984 e Praça Tahrir, 2011), mas mantendo as mesmas exigências de mudança por democracia e liberdade, essas duas manifestações populares acabaram por acelerar a agonia tanto da ditadura brasileira como da egípcia de Hosni Mubarak.

O meu filho ainda faz uma última pergunta:

"- Pai, qual ditadura foi pior, a do Brasil ou do Egito?"

"- Nenhuma, todas são iguais. O importante é a liberdade e o fim de todas as ditaduras.

O Brasil dos meu filhos é uma democracia, mas o Sarney(Suleyman)permanece em nosso cotidiano como imagem recorrente de uma maldição.


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Gato Barbieri Last Tango in Paris


...Eis uma ótima oportunidade para refletirmos sobre esse soberbo filme de Bernardo Bertolucci, refiro-me as polêmicas que atingiram o diretor, os atores, pessoas, países, nações e suas hipocrisias diante da morte, vida, amor, sexo e o acaso das descobertas.

MARIA SCHNEIDER - LAST TANGO IN PARIS




Morreu no ultimo dia 03 de fevereiro a atriz Maria Schneider(1953-2011), mesmo que tenha feito outros filmes, inclusive o clássico "Passageiro: Profissão Repórter" (1975) de Michelangelo Antonioni onde contracenou com Jack Nicholson ela marcou presença no céu de estrelas ao interpretar a ninfeta no "Último Tango em Paris" (1972) de Bernardo Berttolucci e tendo como par o quarentão Marlon Brando. O filme foi no mínimo um escândalo, mesmo que tenha sido produzido no calor daqueles anos marcado pelo "Amor Livre", mesmo assim havia muitos tabus quanto aos segredos de alcova, e na medida que se formava uma onda de opinião a respeito das tórridas cenas de sexo, as expectativas sobre o filme alcançava decibéis do sucesso, e não deu outra, ao estrear nos Estados Unidos e Paris o público formava filas, as salas de cinema ficaram abarrotadas. Mas não acontecia somente isso, a opinião pública conservadora insistia em denunciar o filme como pornográfico, mas isso só fazia aumentar um enorme interesse do público.

Num apartamento vazio e sem maiores peculiaridades, a sacanagem rola à solta entre aquele homem maduro (o qual não consegue dissociar da imagem de um dos maiores mitos do cinema) e aquela garota com olhos e bochechas infantis.

Como Brando diz “ninguém tem nome aqui”, “não quero saber nada sobre você, nada!”, “vamos nos esquecer de tudo que sabíamos”. Brando com o seu timbre de voz característico alterna nesta relação o papel de dominador e dominado, enquanto na antológica sequencia do tablete de manteiga sussurra provocativamente nos ouvidos da ninfeta:

“Segredos de família? Vou lhe contar uns segredos de família. Repita. Sagrada família, abrigo de bons cidadãos... As crianças são torturadas até aprenderem a contar a primeira mentira... Onde o mundo é violentado pela repressão... Onde a liberdade é assassinada pelo egoísmo. Ah, meu deus, Jesus”.

Em 1973 encontrava-me em Buenos Aires, num cinema da cidade estava em cartaz o filme “Último Tango em Paris”,proibidíssimo no Brasil, tinha status de “sala vip”, somente os brasileiros que conseguiam viajar para o exterior, estes, contavam (com certo ar de privilegiado) a sua versão do filme aos patrícios enclausurados. Esses relatos resumiam-se menos pelas qualidades cinematográficas do filme e muito mais pelas cenas arrojadas do ator-mito hollywodiano Marlon Brando sodomizando e deixando-se sodomizar-se por uma ninfeta (Maria Schneider). Numa espécie de acerto de contas com “Lolita”, aqui “o professor” (Brando) recém viúvo (a sua mulher suicidou-se sem ao menos deixar-lhes os motivos).

Logo no início fico instigado com os letreiros montados ao lado de uma pintura do artista inglês Francis Bacon, “Double Portrait of Lucian Freud and Frank Auerbach”, a dramaticidade dos corpos, parecem em carne viva com os músculos retorcidos dando uma deformidade sedutora na expressão dos rostos. Na sequencia fico surpreendido com um homem (Brando) angustiado caminhando no piso abaixo da linha do metrô e ele num desabafo diz “meu deus do céu!”. O seu rosto é uma máscara de choro e por ele, cruza ao acaso a personagem que fará par do casal de desesperados em saciar o vazio com sexo misturado à sedução e rejeição. Esse casal como fosse a própria expressão deformada dos músculos em carne viva encontradas neste trabalho de Francis Bacon.

Não poderia existir um melhor lugar para assistir esse filme, senão em Bueños Aires... Daí não poder esquecer a hilária sequencia do concurso de tango, enquanto Brando e Maria Schneider invadem o salão de dança numa irreverente desconstrução a coreografia do tango... Toda essa história é embalada pela trilha musical aonde a melancolia do tango-jazz composta pelo músico franco-argentino Gato Barbieri, em que ele próprio toca o saxofone dando ao filme uma atmosfera de grande força sensual.

Mas não era somente no Brasil onde o filme sofreu ataques de inquisores, no país nem mesmo havia o direito ao "habeas corpus".Na Inglaterra os censores encurtaram a sequencia de sodomia. Na Itália, Bertolucci e o conservadorismo travaram uma batalha que liberou o filme a exibição somente em 1975, mas mesmo assim uma semana depois a policia confiscou todas as cópias e Bertolucci foi processado por obscenidade. E para coroar esses abusos a Suprema Corte Italiana ordenou que todas as cópias fossem destruídas. Bernardo Bertolucci foi condenado a 4 meses de prisão, setença suspensa, teve seus direitos civis e políticos cassados por 5 anos. Somente em 1997, ou seja, 15 anos depois o Ultimo Tango em Paris pode finalmente ser exibido integralmente na Itália.

Desde então o mundo ficou cada vez mais conservador e muito mais hipócrita haja visto como se encontra a Itália de Belusconi e Cia.

"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

www.tudoporamoraocinema.com.br

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Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.