terça-feira, 22 de junho de 2010

A FOTOGRAFIA EM VIDAS SECAS
















Acho muito importante a existência dos trabalhos finais de conclusão de curso, uma pequena monografia. Há os inspirados e há os apurados, nada impedindo que se mesclem aqui e ali como melhor lhes convenha.

Na área em que atuo, o cinema, tenho visto, assim como na pós-graduação, muitos bons destes trabalhos. No momento refiro-me a este ? Luzes, Cores e Sombras de Graciliano Ramos: a transposição fotográfica em Vidas Secas, de Flávia S. Neves.

O romance de Graciliano Ramos, filmado por Nelson Pereira dos Santos, o clássico de nossas letras torna-se um clássico de nossas telas,
luzes e sombras criadas por Luiz Carlos Barreto, um clássico da luz brasileira. Inventores são os que inventam, vem neste trabalho, desde
o início, e do romance e do filme, narrada mais uma invenção de Brasil, que é o que acontece sempre que os nossos filmes aparecem para
as telas.

Narra de como a luz brasileira inconforme à fotogenia do negativo
importado do hemisfério norte precisa ser inventada no nosso
hemisfério sul e, como sabemos, esta é uma longa história desde que
Afonso Segreto à bordo da nau Brésil ao entrar na baía da Guanabara
no Rio de Janeiro, o Pão de Açucar ao fundo, inventou o cinema em
nossa terra. Muitos e tantos foram os talentos que vem construindo a
nossa imagem à nossa semelhança.

E na pesquisa da Flávia também se somam os comentários e os labores
dos muitos fotógrafos estrangeiros que visitando-nos também nos
gravaram, somando-se a nós, de Chick Fowle, a Ricardo Aranovich, a
Guido Cosulich, e tantos outros operadores, como os dos filmes
naturais, os documentários.

Seu método de análise é primoroso. Compõe a escaleta das cenas e cores
no romance e no filme, expondo a montagem por Graciliano no texto e a
remontagem por Nelson no filme que segundo é sabido foi feito com o
livro nas mãos. Comenta como o fragmentário no original é recriado nas
imagens que o recriam na película. E aí o mistério da aridez de gentes
e cenários é esculpido em luz para que todos a vejam lá na tela e em
nossa condição humana universal. São as estações da vida.

O sucesso de seu trabalho permite-me, e já eu com tanto tempo nesta
estrada, nem propriamente analisá-lo mas divagar. E no interior da
casa, é só a luz do fogo? O que haveria ali de luz artificial, o que
de rebatedores? É de se ver a possível flutuação da luz natural ao
longo do plano. E o tempo? A duração de planos, cenas e sequências.
Não é o cinema uma equação de espaço sobre tempo?

Referindo-se ao difícil diálogo entre os membros desta família primal
brasileira no romance e no filme é que emerge o tema das relações
sociais na palavra, a incomunicabilidade como um escuro entre as
pessoas. Sem luz não vemos as pessoas em diálogo, como não as vemos no telefone e no computador. Mas sempre é possível na vida real ver no
escuro, já no cinema?

E sabemos que a dificuldade da comunicação nas pessoas é um dos
grandes temas universais do século xx. Ao não viver o progresso na
história e sim seus retrocessos os pensamentos e as palavras se
atrasam, se atropelam, se atrapalham, se incomunicam. E o cinema tem
um mundo de filmes retratando isso.

No entanto, pra bem ou mal, o trato social sempre se comunica, nem
sempre por palavras, ou não só, mas por gestos, por sentimentos e
sobretudo por ações. O humano mal realizado socialmente torna-se um
reprimido, e daí perigando tornar-se um repressor. A mais maldita das
palavras, a repressão, invocada instala-se em todos os sentidos: ?mas
acorrentado ninguém pode amar?. Ao fazer do filho o objeto de sua
impaciência como que se vinga da violência que irá sofrer, mas a
vingança é fundamentalmente um ato de retórica porque visa anular o já
ocorrido, o que não se tem como negar ou extirpar.

Falar de fotografia é ousadia minha que não tenho a necessária
formação mas já me aventurei nessa seara a propósito de Humberto
Mauro, Edgar Brasil e Hélio Silva. Pessoalmente não me apraz imaginar
a cultura brasileira senão por seus próprios passados e
desenvolvimentos históricos.

Refuto alegadas influências como as que tanto se diz do neo realismo e
do expressionismo, afinal temos uma farta e antiga vivência de
construção e desconstrução de nossos realismos caboclos. Não carece. E
ao que eu saiba, cá não tivemos as guerras como lá, tivemos as nossas.
O gravurismo de Goeldi e seu quê de expressionismo é na verdade uma
forma de mais-realismo, e olha aí a presença da xilogravura na cultura
popular nordestina. No filme, como em tantos dos nossos, o que mais
vejo é um realismo poético que é como exercita Nelson a questão do
realismo, do mais ou do menos, no cinema.

Uma inegável influência da tradição estrangeira ocidental é mais na
formação que na criação estética. Temos que regurgitá-la como se faz
com o negativo importado. A estética, que é um nível de representação
autônoma da realidade, brota de suas próprias raízes, enterradas no
chão, e evolui no sentido de escola de samba e não do que se imagina
como um progresso universal, raízes do Brasil.

Vai crescendo e vai crescendo sua percepção à medida que evolui em
meio à realidade em expansão e o que registra é sua relação participada nessa expansão e que afinal só vemos e só reconhecemos a que nos está próxima.

No mais tudo é movimento: Galileu, recém homenageado pelo Vaticano que o condenara e do qual esquivou-se o gênio. No cinema, como se sabe, o movimento é uma ilusão que gira recriando um mundo de ilusão paralelo ao real mas que quer narrá-lo. A fotografia em movimento ganha toda essa riqueza aqui neste trabalho da Flávia, também autora de um Sangue Carioca, brilhantemente narrada, detalhada e demonstrada, exemplificada na reprodução dos fotogramas em que se pode ver tudo que aqui se fala, até sem nem estar vendo todo o filme.

Desde antes, com outros estudos sobre a fotografia do cinema brasileiro e seus exemplos, como o belo ensaio do Miguel Freire sobre Mário Carneiro, parecem-me base bastante para uma autosuficiência da cultura, do cinema e sua fotografia brasileiros. Ainda mais naquelas lonjuras sem socorro, faz-se a telha com o barro que tiver.

Como se sabe antes de Vidas Secas, Nelson inventa o Mandacaru Vermelho, um cotejo entre os dois, inclusive fotográfico, é uma delícia. Mandacaru foi o Vidas Secas que não pode ser naquele então, as chuvas abundantes enverdeceram o sertão. A experiência da fotografia de Hélio Silva ( sem esquecer o Major Reis e os tantos casos de fotógrafos eles mesmos na inospidão revelando seus filmes) igualmente laboriosa e fecunda, consagra como a vida do vaqueiro a lida por uma luz brasileira. (Sergio Santeiro. Charitas. 17/06/2010).

[ em http://www.viapolitica.com.br ]

Enviada por: "Sergio Santeiro"

segunda-feira, 21 de junho de 2010

CINEMA BRASILEIRO & ARGENTINO?



ALMANAKITO - Maria do Rosário Caetano

BRASIL-ARGENTINA
POR ITTALA NANDI

Oi Rô:

Estou gostando desse debate Cinema Argentino x Cinema Brasileiro.

A meu ver o que há contra nós na escolha dos filmes para o Oscar é apenas uma questão: a língua - espanhol é falado por todo lado nos States, e o português/brasileiro????

Porque em matéria de filmes estamos no empate.

Bessos Ittala

sexta-feira, 18 de junho de 2010

COMO ELIO GASPARI MENTIU E FEZ DULCE MAIA VIRAR DILMA ROUSSEFF



Houve um tempo em que mentira tinha pernas curtas. Agora, a internet faz exercícios diários de alongamento da mendacidade. Nos últimos meses, uma torrencial campanha caluniosa circula pela rede mundial de computadores tomando por base artigo do jornalista Elio Gaspari, publicado originalmente nos jornais Folha de S.Paulo e O Globo em suas edições de 12 de março de 2008.

Por Dulce Maia, no Observatório da Imprensa

Quem tiver curiosidade de buscar na internet o número de vezes em que aparecem variantes da infame sentença "Agora a surpresa: adivinhem quem é Dulce Maia? Sim, ela mesma: Dilminha paz e amor! Esse é só mais um codinome da terrorista Estela/Dilma" – colada ao final do artigo de Gaspari – verá que estão hospedadas em mais de 500 páginas da rede (marca muito próxima à moda nazista de cunhar a verdade repetindo-se mil vezes uma mentira para torná-la veraz).

Ao contrário do que afirmam, Dulce Maia existe e resiste. Quem é Dulce Maia? Sou eu. Antes de mais nada, quero deixar claro que não me arrependo de nenhuma das opções políticas que fiz na vida, inclusive de ter participado da luta armada e da resistência à ditadura militar implantada em 1964. Eu me orgulho de ter sido companheira de luta de brasileiros dignos como Carlos Lamarca, Onofre Pinto, Diógenes de Oliveira e Aloysio Nunes Ferreira.

Sinal de descaso

Não pretendo polemizar com meus detratores, que ousaram decretar minha morte civil. Estes irão responder em juízo por seus atos. Não admito que queiram impor novos sofrimentos a quem já foi presa, torturada e banida do Brasil durante a ditadura. Lutarei com todas as minhas forças para garantir respeito à minha honra e à minha dignidade.

Gostaria apenas de fazer algumas reflexões sobre essa insidiosa campanha, alicerçada nos erros cometidos pelo jornalista Elio Gaspari ao tratar da ação contra o consulado norte-americano de São Paulo, em 1968. O articulista teve 40 anos para apurar a história. Falsamente me colocou como participante do episódio, sem nunca ter me procurado para checar a veracidade das informações de que dispunha. Tomou pelo valor de face peças do inquérito policial relativo ao atentado, como declaração extraída sob tortura do arquiteto e artista plástico Sérgio Ferro.


Se o articulista tivesse compulsado os arquivos do próprio jornal Folha de S.Paulo, facilmente encontraria entrevista de Sérgio Ferro (de quem também me orgulho de ser amiga há quase meio século). Conforme se lê no texto do repórter Mario Cesar Carvalho, publicado a 18 de maio de 1992, "Ferro assumiu pela primeira vez, em entrevista à Folha que ele, o arquiteto Rodrigo Lefrèvre
8-1984) e uma terceira pessoa que ele prefere não identificar colocaram a bomba que explodiu à 1h15 do dia 19 de março de 1968 no consulado de São Paulo. Um estudante ficou ferido".

A matéria de 1992 trazia ilustração com um imenso dedo indicador em riste (o famoso "dedo-duro" apontado sobre a cabeça de um homem e acompanhado do texto "terror e cultura").
(193

Gaspari tinha o dever ético de me procurar para verificar se seria eu essa terceira pessoa. Além de não fazê-lo, publicou que o atentado fora cometido por cinco pessoas (entre as quais fui falsamente incluída). O mesmo cuidado deveriam ter tido os responsáveis pela matéria da Folha de S.Paulo de 14 de março de 2008, que repercutiu o artigo de Gaspari reafirmando as falsas acusações.

A esses erros elementares de apuração, deve se somar a relutância da Folha de S.Paulo em restabelecer a verdade. Em nenhum momento, o ombudsman do jornal veio a público para tratar do assunto. O pedido de desculpas de Gaspari foi mera formalidade, sem delicadeza alguma. Sinal mais evidente do descaso do jornal foi a demora na publicação de carta de Sérgio Ferro, onde refutava categoricamente que eu tivesse participado daquela ação armada. A carta só foi publicada dois dias depois de ser divulgada no blog do jornalista Luis Nassif.

Luz do sol


Processado, o jornal foi condenado em primeira instância à reparação por danos morais [ver sentença abaixo]. Imaginava que a ação judicial fosse um freio eficaz às aleivosias, particularmente depois da exemplar observação do juiz de Direito Fausto José Martins Seabra de que o jornal "não só extrapolou o direito de crítica, como olvidou o compromisso legal e ético com a verdade".


No entanto, o artigo de Gaspari voltou a circular com o espantoso adendo de que Dulce Maia não existe e que este seria apenas um codinome de Dilma Rousseff. A utilização do artigo em plena campanha eleitoral mostra que setores da sociedade não têm qualquer apreço pela verdade como arma política. São pessoas que, muito provavelmente, apoiaram o golpe militar de 1964 e não apreciam o debate franco e aberto de ideias.


Chama atenção, também, o silêncio de Elio Gaspari sobre o uso indevido de seu texto. Nunca li qualquer manifestação do articulista refutando o uso de seu nome em páginas que emporcalham a internet com mentiras sobre minha pessoa.

O desrespeito é de duplo grau. Primeiro, pela reiterada circulação de informações falsas sobre o atentado ao consulado norte-americano (prática já condenada pela Justiça na sentença de primeira instância do juiz Martins Seabra). Em segundo lugar, e não menos importante, com a tentativa de me despersonalizar, como se Dulce Maia fosse apenas um codinome.

Depois dos desaparecimentos forçados praticados pela ditadura, que impôs a aniquilação física de adversários políticos, sequazes do regime militar querem impor a aniquilação moral em plena democracia. E o fazem da forma mais vil, espalhando mentiras pela internet.

Como estratégia política, não é novidade. Documentos do governo norte-americano revelam que a CIA apoiava o uso de boatos para desestabilizar o governo democrático de Salvador Allende. Vivi em Santiago e presenciei a onda de boatos que não atingiu seus objetivos eleitorais (Allende foi deposto pelo sangrento golpe militar de setembro de 1973).

Trazer à luz do sol aqueles que usam a mentira como ferramenta política é uma tarefa urgente. Farei a minha parte, acionando judicialmente todos aqueles que atacam minha honra ao tentar tirar proveito político de grotescas caricaturas para atingir a imagem de seus adversários.

terça-feira, 1 de junho de 2010

CARTA AO GOVERNO ISRAELENSE


Carta ao governo Israelense

POR SILVIO TENDLER

Senhores que me envergonham:



Judeu identificado com as melhores tradições humanistas de nossa cultura, sinto-me profundamente envergonhado com o que sucessivos governos israelenses vêm fazendo com a paz no Oriente.Médio.

As iniciativas contra a paz tomadas pelo governo de Israel vem tornando cotidianamente a sobrevivência em Israel e na Palestina cada vez mais insuportável.

Já faz tempo que sinto vergonha das ocupações indecentes praticadas por colonos judeus em território palestino. Que dizer agora do bombardeio do navio com bandeira turca que leva alimentos para nossos irmãos palestinos? Vergonha, três vezes vergonha!

Proponho que Simon Peres devolva seu prêmio Nobel da Paz e peça desculpas por tê-lo aceito mesmo depois de ter armado a África do Sul do Apartheid.

Considero o atual governo, todos seus membros, sem exceção, merecedores por consenso universal do Prêmio Jim Jones por estarem conduzindo todo um país para o suicídio coletivo.

A continuar com a política genocida do atual governo nem os bons sobreviverão e Israel perecerá baixo o desprezo de todo o mundo..

O Sr., Lieberman, que trouxe da sua Moldávia natal vasta experiência com pogroms, está firmemente empenhado em aplicá-la contra nossos irmãos palestinos. Este merece só para ele um tribunal de Nuremberg.

Digo tudo isso porque um judeu humanista não pode assistir calado e indiferente o que está acontecendo no Oriente Médio. Precisamos de força e coragem para, unidos aos bons, lutar pela convivência fraterna entre dois povos irmãos.

Abaixo o fascismo!

Paz Já!

Silvio Tendler

Cineasta

"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

www.tudoporamoraocinema.com.br

Minha foto
Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.