quarta-feira, 6 de agosto de 2008

ATHOS BULCÃO E VOLPI

ESTUDANTES E A IGREJINHA


Athos, quer dizer em grego, "aquele que nada teme".



Conto essa história em homenagem ao artista Athos Bulcão (1918-2008). Um dos projetos em que deixou a marca da sua criatividade foi na “Igrejinha da cento e oito sul”, o lugar de "encontro" e “desencontros” estudantis.



Em 1968 encontrava-me recém chegado em Brasília, perdia-me observando maravilhado àquelas edificações monumentais manchadas com o vermelho da poeira. Por todo lado havia referências da refundação da nossa brasilidade, e foi justamente naquele ano que a ditatura reagiu implacavelmente contra essa perspectiva histórica. Aliás, como todas as outras coisas no dia-a-dia da nação submetida à censura, mas neste caso, não havia como escondê-las.


ATHOS, VOLPI, IGREJINHA

Em 1957, a “Igrejinha da 108” foi a primeira igreja no Plano Piloto a ser construída, e foi também o primeiro trabalho do artista Athos Bulcão em Brasília, para nunca mais sair desta cidade que ajudou a construir. Este projeto surgiu como paga à N.S. de Fátima de uma graça alcançada pelo Presidente Juscelino e dona Sara Kubitschek. Oscar Niemeyer projetou-a inspirado no chapéu usado pelas Irmãs Vicentinas.


Athos Bulcão é o autor dos azulejos no exterior da “Igrejinha”, ele criou figuras estilizadas da pomba do Divino e da estrela da Natividade.


O afresco assinado pelo artista Alfredo Volpi (1896-1988) e que decorava a parte interna foi censurado. Conta-se que a esposa de um dos "bruxos do poder" daquela época não se emocionava com anjos misturados a singeleza das bandeirolas populares das festas de São João. Um dia o afresco do Volpi sumiu (continua censurado) por debaixo de uma passada de tinta. Quanto sacrilégio!



ATHOS – TEATRO NACIONAL CLAUDIO SANTORO

As obras de Athos Bulcão são onipresentes em Brasília, nos palácios (Alvorada, Planalto, Itamaraty), prédios públicos (Congresso Nacional), hospital (Sara Kubitschek) e em muitos outros lugares, mas a sua intervenção no projeto do Teatro Nacional, sem dúvida, se não é o mais importante, é uma das suas obras recorrentes no inconsciente coletivo dos brasilienses.

Aqueles blocos em relevos do Teatro Nacional criam uma simbiose entre a edificação e os adornos que lhe dão uma expressividade arquitetônica singular, remetendo-o às monumentais construções imperiais - as pirâmides maias e astecas. Como a construção de Brasília é uma refundação da nossa nacionalidade, neste caso, a criatividade da dupla Niemeyer e Bulcão assume uma dimensão excepcional, por homenagear numa única obra todo o continente latino americano.





No filme "A Idade da Terra"(1980) o cineasta Glauber Rocha (1939-1981) deu-lhe significados metafóricos.

"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

www.tudoporamoraocinema.com.br

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Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.