quarta-feira, 28 de maio de 2008

PERES: O SANTO GUERREIRO




José Ribamar Bessa Freire 25/05/2008 - Diário do Amazonas

Quando o pintor carioca Di Cavalcanti morreu, em 1976, o cineasta baiano Glauber Rocha decidiu documentar a morte do amigo à sua maneira. Sem grana, pediu emprestados pedaços de filmes virgens e uma câmara e se mandou para o velório no Museu de Arte Moderna. Depois, acompanhou o enterro até o cemitério São João Batista, em Botafogo, filmando tudo.

O documentário inicia com flores ocupando toda a tela. Ouve-se a voz de Glauber Rocha: “Agora enquadra o caixão no centro, da esquerda para a direeeeeita”. Aparece, então, o cadáver de Di, o pintor das favelas, das festas populares, das mulatas. “Dá um close na cara dele”, grita Glauber, e continua narrando o velório, atropelando as palavras com emoção como se estivesse irradiando uma partida de futebol. Na hora do sepultamento, Glauber carnavaliza com a música: “O teu cabelo não nega, mulata...”.

“As poucas pessoas que estavam lá ficaram chocadíssimas – conta Glauber. Diziam que eu estava tumultuando o enterro, estava profanando um ato católico. Não é nada disso. Meu filme é um manifesto contra a morte, uma homenagem de amigo para amigo. Di era um homem alegre. Filmar meu amigo Di morto é um ato de humor modernista. Por que enterrar as pessoas com lágrimas e flores comerciais? O filme é uma celebração que liberta o morto de sua hipócrita-trágica condição”.

O filme recebeu o Prêmio Especial do Júri do Festival de Cannes, em 1977. Nessa época, ele foi exibido no porão do velho ICHL, em Manaus, numa projeção do cine-clube organizado por Tomzé Valle da Costa. Logo depois, sua exibição pública foi proibida. Com o filme, Glauber manifestou sua indignação contra os urubus que queriam se aproveitar politicamente do cadáver e documentou “a ressurreição que transcende a burocracia do cemitério”, materializando, como ele disse, “a vitória de São Jorge sobre o Dragão”.

Lembrei-me do filme sobre Di Cavalcanti, quando tomei conhecimento, emocionado, da morte do senador José Jefferson Carpinteiro Peres, líder do PDT. Ele, que era José e era Carpinteiro, foi uma espécie de santo guerreiro na luta contra o dragão da maldade, representado pela desintegração dos valores morais da sociedade brasileira.

A vida desse santo guerreiro foi um eterno combate contra a corrupção. No Senado, foi membro titular do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar e de várias CPIs que investigaram o roubo ou mau uso do dinheiro público. Sua presença nos dava a garantia de que a investigação não acabaria em pizza. Investigou denúncias contra dois presidentes do Senado com os quais conviveu: Jader Barbalho, em 2001 e Renan Calheiros, em 2007 e não hesitou em condená-los pelas falcatruas que cometeram.

É preciso ter muita coragem, firmeza e lucidez para não se deixar envolver pela teia de relações pessoais de amizade, pelo corporativismo e pelo compadrismo. As relações amistosas que mantinha com seus colegas Jader Barbalho e Renan Calheiros não impediram Jefferson Peres de defender os interesses coletivos e pedir as cabeças de ambos. O preço que pagou por isso foi alto: o desencanto com a política.

Há pouco tempo, pronunciou discurso na tribuna do Senado, manifestando sua preocupação com o que chamou de “dilapidação do capital ético deste País”, o que o levou a ter um “profundo desalento com a vida pública”. Bateu forte no clientelismo e na troca de favores praticados pela elite dirigente, condenando essa forma de fazer política como responsável pela “putrefação moral do Brasil”.

“A classe política já apodreceu há muito tempo. Este Congresso que está aqui - desculpem-me a franqueza - é a pior legislatura da qual já participei. Nunca vi um Congresso tão medíocre. Claro, com uma minoria ilustre, respeitável, a quem cumprimento. Mas uma maioria, infelizmente, tão medíocre, com nível intelectual e moral tão baixo, eu nunca vi. O que se pode esperar disso aí? Não sei”.

Preocupado com a opinião pública anestesiada diante dos sucessivos escândalos de corrupção, anunciou seu afastamento: “Tenho quatro anos de Senado. Não me candidatarei em 2010, não quero mais viver a vida pública. Vou cumprir o mandato que o povo do Amazonas me deu, não vou silenciar. Não teria justificativa dizer que não vou fazer mais nada. Cumprirei rigorosamente o meu dever neste Senado até o último dia de mandato, mas para cá não quero mais voltar, não!”.

Afastava-se do mandato, mas não da luta, como esclareceu no final do discurso em agosto de 2006: “Vou continuar pelejando pelos jornais e por todos os meios possíveis, mas como ator, na vida política e na vida pública deste País, depois de 2010, eu não quero mais! (...) O meu desalento é profundo. Deixo isso registrado nos Anais do Senado Federal. Infelizmente, eu gostaria de estar fazendo outro tipo de pronunciamento, mas falo o que penso, perdendo ou não votos pouco me importa. Aliás, eu não quero mais votos mesmo, pois estou encerrando a minha vida pública daqui a quatro anos, profundamente desencantado com ela”.

Alguém, no Amazonas, devia fazer com Jefferson Peres o que Glauber fez com Di Cavalcanti: impedir que os urubus se apropriem de sua memória. Se um delinqüente como o prefeito de Coari, Adail Pinheiro, comparecer ao funeral ou chegar a menos de 5 km. do velório, deve ser escorraçado. Adail Pinheiro (PMDB – vixe, vixe!) foi acusado de usar dinheiro público para fretar avião e contratar prostitutas, duas delas menores, além de ser apontado como chefe de uma organização fraudadora de licitações, obras e serviços. Ele é o anti-Jefferson Peres.

Não é o único. Cito o prefeito de Coari, porque nesse momento ele está presente nas primeiras páginas de todos os jornais de circulação nacional como o representante máximo da roubalheira. Mas existem outras figuras políticas, que a população conhece muito bem, envolvidas em pagamento de ‘obras-fantasmas’, que acreditam poder limpar o nome homenageando o senador Jefferson Peres. Não conseguirão.

A morte do senador Jefferson Peres nos pegou de surpresa, deixando-nos um pouco órfãos de sua coragem e de sua decência. Afinal, ele expressava o que sentíamos e falava o que pensávamos. Esperamos que sua memória não fique limitada apenas a nomes de ruas, praças, escolas, monumentos, mas possa ser reproduzida nos pequenos gestos cotidianos de coragem e de indignação de cada brasileiro decente.


Copyright 2000 © TAQUI PRA TI (Tivemos a gentil e generosa autorização do autor: Babá Bessa)

segunda-feira, 26 de maio de 2008

SAEM OS NARDONI, ENTRAM OS ÍNDIOS


"A derrubada do pau-brasil é o grande símbolo do começo de nossa história. O desfalque e o ataque à natureza são nossos sinais de batismo, como o é também a posse da mulher índia pelo branco invasor (...) A protocélula do povo brasileiro: a criação de um hibrido que nunca saberá quem é, porque nem pai nem mãe lhe servirão de espelho ou modelo de identidade". Roberto Gambini (1)
"O Brasil é uma terra de mestiço pirado querendo ser puro-sangue". Tim Maia (2)


...Antes era a Igreja os missionários, a catequese, hoje é a TV...

A imagem dos índios armados com facões atacando um engenheiro da Eletrobrás que participava de um encontro sobre a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará, teve como consequencia reviver a antiga demonização dos povos indígenas e deu motivos para muitas pessoas expiarem seu desprezo contra os índios.

O MEIO É A MENSAGEM
Os povos indígenas foram desde o início do “achamento”(1500) identificados como personagens do paraíso terrestre, para logo depois serem transformados em seres sem almas, numa mistura de gente e féra – os selvagens.

Esta tem sido a estratégia de contra propaganda às extraordinários conquistas civilizatorias dos povos indigenas. Aquelas utilizadas até hoje pela civilização branca e européia na sua medicina, culinária, habitação e tantos outros produtos existentes no cobiçado "banco genético do novo mundo": o tanino, a pimenta, o cacau (chocolate), a rede de dormir, a mandioca, o milho, a batata, a cana-de-açúcar, a seringueira (borracha), etceteras. Estes produtos são utilizados em nosso cotidiano sem que a maioria da população terrestre saiba a sua origem.
Houve um roubo de memória e de propriedade, isto que hoje em dia denominamos como biopirataria.
XINGÚ E A HIDRELÉTRICA
Todas as vezes que nos deparamos como uma cena espetacularmente chocante, acende na memória algo de terrível...vingança...sentimentos eurocentricos...excludentes e hegemônicos. O diferente deverá ser banido, extinto.
MOCINHOS & BANDIDOS

A hidrelétrica que se quer construir faz 20 anos no Xingu não é do interesse dos povos que aí habitam faz milhares de anos. Eles merecem serem ouvidos, sobretudo porque a relação deles com a natureza não tem o mesmo significado para nós que vivemos nas cidades, aonde o imaginário é povoado pela paranóia do medo, da violência, da solidão e do expansionismo sem trégua.
O BELO MONTE DA ELETROBRÁS

O relato sobre o o impacto que a instalação do projeto da usina de Belo Monte poderão causar teve como porta-voz o engenheiro Paulo Fernando Rezende. Por indicação da ELETROBRÁS foi escolhido para apresentar aos moradores da região, os índios de 24 etnias os pró e contras da hidrelétrica. Ele, corajosamente assumiu, como especialista do projeto proposto, que essa obra em nome do "progresso" vai funcionar apenas por alguns meses por ano.

Perplexos e indignados os índios perguntaram-se como uma grande área florestal seria inundada, a fauna e a flora submersas, populações deverão abandonar seu território aonde nasceram seus ancestrais e toda a paisagem afetiva e de sobrevivência será perdida pra sempre em troca de alguns meses de fornecimento de energia elétrica?

LÁBIAS,LOROTAS E FACÕES

Sem uma resposta plausivel diante de tantas não-respoostas, os índios atacaram o engenheiro da ELETROBRAS, sim justamente aquele que se apresentou como o "representante" dos brancos. As imagens dos índios furiosos, armados de facões, rasgando as roupas do engenheiro ensanguentado foi a imagem que as TVs precisavam para alavancar seus índices de audincia: sensacionalismo. Elas foram exibidas varias vezes, com narrações emocionados de indignação,mas sem explicações e motivos.
Toda essa demonização apenas fez despertar sentimentos primitivos; aqueles que levam as pessoas a querer fazer justiça com as próprias mãos, como podemos averiguar nesta mensagem.
OPINIÃO DO LEITOR

“Imprestáveis"
Qua 21/05/08 01h33 New , newt@estadao.com.br
"Indios com interesses em grana atacando trabalhadores honestos. Essa raça tem que receber uma lição urgente, acabar com o coitadismo deles, e descer bala.”


Nota:

(1)Espelho Índio: a formação da alma brasileira/Roberto Gambini. SP;Axis Mundi: Terceiro Nome,2000.

(2)Vale Tudo: o som e a fúria de Tim Maia/ Nelson Mota - RJ, Objetiva,2007.

(3) Foto: André Penner/AP

(4)reconstituição do massacre dos Cinta-Larga (1964).




terça-feira, 20 de maio de 2008

MARINA SILVA SELVA





O desfecho da rota-destino do Urbano Lula da Silva e Marina Silva Selva, os faz sobreviventes da diáspora causada pela miséria; um e outro são metáforas dos desafios que o Brasil enfrenta nestes cinco séculos de existência.

OS SILVA E A SELVA
O Presidente Urbano Lula da Silva é um ex-pau-de-arara, ex-metalúrgico, ex-líder sindical da região do ABCD. A cabocla acreana e ex-ministra Marina Silva Selva nasceu na Amazônia, no seringal Bagaço, é ex-seringueira, ex-quase freira, ex-empregada doméstica. Foi alfabetizada somente aos 16 anos, dez anos depois havia se formado em História pela Universidade do Acre.
Quer dizer, tanto o Urbano como a Selva são pessoas extraordinárias.

O Urbano Lula da Silva e a Marina Silva Selva trazem no corpo as marcas desta trajetória. A primeira teve malária, hepatite, leshmaniose e convive com uma saúde sob cuidados. Como cosequencia da contaminação do sangue pelos produtos químicos que poluem os rios pela ação predatória dos garimpos na Amazônia. Enquanto que o Presidente Lula traz na ausência de um dos dedos nas mãos, a lembrança permanente do acidente de trabalho num torno metalúrgico, assim como na sua prosódia, apesar da rapidez de raciocínio, os atropelos no vernáculo expõe a realidade de milhões de brasileiros.

A CALIGRAFIA NO ABC DOS SERINGAIS

A trajetória de Marina deste o analfabetismo na selva amazônica até ao gabinete de Ministra do Meio Ambiente surpreendentemente faz paralelo com a ascensão do presidente Lula. Metaforicamente essa coincidência entre a caligrafia que traça o destino de Marina Silva Selva é a mesma que escreveu o surgimento do ABCD metalúrgico, origem do novo poder político brasileiro e a nova consciência sobre os valores da preservação dos recursos naturais e da floresta amazônica.

LÁTEX, BORRACHA E PNEUS

A rota-destino parece se fundir até aqui, de agora em diante cada um seguirá o seu próprio caminho. Marina Silva Selva coletou látex para fazer borracha e esta se transformar entre outras coisas, em pneus. E estes fazem a razão da existencia do Presidente Lula marcado pela cultura urbana dos automóveis, ele busca compreender aonde colocará tantos veículos? Senão amontoando-os pelo território nacional a fora, produzindo mais combustíveis, desde aqueles que se encontram debaixo da terra aos biocombustiveis que tambem precisam de mais terras, portanto mais devastações de florestas, mais poluições dos rios e das cidades. Daí fazermos a oportuna pergunta diante do procejo para“acelerar o desenvolvimento”. Quem estará com os pés no breque, nos freios?...

A LEI DA SELVA E DA CIDADE

No final dos anos 70 o Presidente Urbano Lula da Silva ao desafiar a ditadura deu visibilidade a luta dos trabalhadores no eixo industrial do país - as montadores de veículos automotores. Enquanto Marina da Silva Selva contemporânea e parceira de Chico Mendes, juntos ousavam desafiar a “lei da selva”nos seringais extrativistas da Amazônia (ACRE), resultado: Chico Mendes foi assassinado em dezembro de 19886, mas seus herdeiros como Marina Silva Selva arrebataram admiração.

CABEÇAS CORTADAS

Marina, a ministra do Meio Ambiente do governo Urbano Lula da Silva, resolveu pedir o chapéu e cair fora. Ficou seis anos no cargo, também foram meia dúzia de anos em que foi mantida sob fogo brando e outras vezes nas brasas do caldeirão ardente das queimadas amazônicas.

Na verdade, isto não é nenhuma novidade, a sua cabeça encontrava-se a prêmio faz tempo. E não eram uns poucos que a queriam...inclusive incentivando desconfianças (o mesmo que se cultiva em relação ao presidente Urbano Lula da Silva) em relação a sua capacidade intelectual. Preconceitos ricochetearam nas mídias, numa contra-propaganda cujo único objetivo era fazê-la cair, já que não podiam acertá-la à bala.

A sua imagem de mulher frágil (de fato em termos de saúde, parece que assim é) e de voz mansa incentivava os incautos conspiradores. O custo destas pessoas era um só:

Em nome do desenvolvimento e do progresso, a liberdade de fazer o que quisessem com o meio ambiente, mas sobretudo com a Amazônia.

O CUSTO DO PROGRESSO

Como Ministra do Meio Ambiente Marina Silva Selva/ Marina Osmarina Silva de Souza estabeleceu duras condições para conceder licenças ambientais, cuja reputação a fez ganhar o “Prêmio Goldman de Meio Ambiente” e o “Campeões da Terra”, da ONU. Essa postura, também, contrariava a determinados ministros do governo que apóiam a exploração dos recursos da floresta.Como por exemplo o PAC, a transposição do rio São Francisco, a hidrelétrica no Rio Madeira, a farra do uso dos transgênicos no plantio da soja, a instalação de Usinas de Álcool no Pantanal, a questão das demarcações e homologação das terras indígenas (Raposa Serra do Sol – RORAIMA), etceteras.

Aqueles que se sentiam incomodados pelas atitudes da Ministra Marina Silva Selva, mas não tinham coragem de vir a publico expor suas opiniões beligerantes, eles temiam uma repercussão nefasta a nível internacional, para a imagem positiva de respeitabilidade do governo Urbano Lula da Silva e tambem por outro lado, eles não queriam torná-la em mais um mártir da Floresta Amazônica.

BANCO GENÉTICO: FUNDO SOBERANO

Nos últimos tempos, motivados, talvez, pelas alvissareiras notícias sobre a economia nacional: “investment grade”, “fundo soberano”, arrochado pela bancada ruralista do Congresso Nacional, pelos militares, agronegócios, arrozeiros, madeireiros, fazendeiros, demarcação de terras indígenas, cartões corporativos que mais uma vez coloca a ante-sala da presidência da republica é colocada contra a parede para responder questões relacionadas a privacidade deste mesmo poder. Mais a aproximação das eleições municipais que refaz esse mapa “mutante-quasímodo” partidário nacional, eis que o governo Urbano Lula da Silva, rende-se ao grupo e em do nome do “futuro” entrega a cabeça da Marina Silva Selva.

Todas aquelas questões que Marina Silva Selva tenazmente defendia e ao mesmo tempo via as suas decisões atropeladas pelo interesses imediatos do Governo, por fim, o presidente Urbano Lula da Silva concedeu ao professor Roberto Mangabeira Unger a chave do cofre do PAS (Plano Amazônia Sustentável). Sim, àquele mesmo professor da impoluta Universidade de Harvard-Boston e atualmente encontra-se ministro de estado do governo Lula aonde é responsável para apresentar projetos para o "futuro do Brasil".

MANGABEIRA UNGER DOUTOR EM AMAZÔNIA

No mês de janeiro, do corrente ano, o ministro Mangabeira Unger viajou pela Amazônia, levando consigo “propostas originais” para resolver as questões que desafiam a cobiçada região. Uma das suas idéias para solucionar a escassez de água no Nordeste, pasme:

“Fazer a transposição das águas da Amazônia para aquela região”.

O RIO AMARELO E A AMAZÔNIA

Justamente este mesmo senhor é quem vai coordenar o Plano Amazônia Sustentável, quer dizer,vai decidir o que é bom e melhor para a região amazônica. Nosso desejo é que ele, ao menos leve em consideração as lições que resultam no hibridismo desenvolvimentista chinês, lá o Rio Amarelo está super-explorado, encolheu dois quilômetros. A região norte do país está secando a medida que a demanda hídrica ultrapassa a oferta. Cursos d'água estão se exaurindo e rios e lagos desaparecendo. Na disputa pela água entre cidades, indústrias e agricultura, a análise econômica não favorece a agricultura.

URBANO LULA DA SILVA E MARINA SILVA SELVA

Mas, quem está querendo saber destes fatos? Pelos sorrisos, declarações e mensagens encontradas nos “chats” da internet, podemos vislumbrar um FUTURO pouco promissor para essa empreitada do PAS (Plano Amazônia Sustentável). A saída de Marina Silva Selva do Ministério do Meio Ambiente vem sendo festejada por todos que se pretendem se locupletar sobre os recursos naturais.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

PRA NUNCA ESQUECER


"Existe um povo que a bandeira empresta

P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...

E deixa-a transformar-se nessa festa

Em manto impuro de bacante fria!..."  - O Navio Negreiros, 1869, CASTRO ALVES.

(ao som de "Babá Alapalá", Gilberto Gil)



NEGRO

NEGUINHA

NÊGÃO

PRETO
PRETINHA

PRETO-VÉIO

PRETA-FEIA
ALEMÃO
BRASIL ÁFRICA AMÉRICA
AFRODESCENDENTES

IMPORTA A DATA?

13 DE MAIO DE 1886.


quinta-feira, 8 de maio de 2008

AMAZÔNIA NAU-FRAGIL II
















"Se o Brasil te conhecesse
antes do fim que se aproxima,
salvaria tua beleza? Teus seres desencantados?

Entenderia a ciência tua infinita riqueza?"


"Prece de amazonense em São Paulo" - Milton HatoumQuando criança, em Manaus, havia um menino muito extrovertido, falava pelos cotovelos. A sua desinibição fazia com que os adultos o adulassem, enquanto nós, os seus iguais o considerava um petulante puxa-saco. Ele costumava enaltecer as qualidades do poder da sua família. Segundo gostava de dizer, o avô era proprietário de um rio e nele navegava somente quem autorizasse.


Recordo-me de duas.

1. Para evitar que os índios e os caboclos não roubassem a produção de borracha, castanhas, peles de animais e peixes ele punia àqueles que ousassem desobedece-lo, eram amarrados num ninho de formigas tocandeiras (uma única ferroada o camarada dá gritos lancinantes) e assim eram deixados noite e dia... 

2. O avô cortava as orelhas dos índios preguiçosos (sic) e as colecionava. Cresci assombrado pelas imagens desse circo dos horrores.

Mas enquanto crescia fui percebendo que essa era a lei, a normalidade das resoluções tomadas pelos "donos do poder". Fomentar o medo, cultivando uma espécie de terrorismo de estado.


Até hoje, tudo aquilo que os "civilizados" não compreendem como semelhante aos seus desígnios morais, eles denominam esse "outro" como selvagem, e isto tem sido cultivado como uma verdade desde a Antiguidade, sobretudo depois das "viagens de descobrimentos" - o Novo Mundo, desde então os europeus transferiram o seu imaginário do horror infernal para os povos que habitavam as terras novas. Daí, logo foram denominados como seres demoníacos, sem alma, uma mistura teratológica entre o homem e a besta.

Mesmo assim essa reinvenção do imaginário ameríndio encontra-se desde sempre envolto numa ambiguidade, por um lado o Novo Mundo é a terra dos seres mutantes, mas por outro é também uma espécie de Paraíso terrestre reencontrado, homens e mulheres nuas: calor, luxúria, prazer, profano e sagrado.

E este lugar, sem dúvida, hoje, refere-se à Amazônia, nome de batismo depois que supostamente foi visto mulheres com características ambíguas, entre a guerreira e a doméstica. Um mito emprestado da imaginação da civilização grega, inoculando o feminino no imaginário da maior reserva florestal do planeta: a Amazônia.

A chegada dos europeus na região amazônica é seguida de episódios de grandes crueldades, o massacre e extinção da maioria da sua população original, e após o seu domínio alimentou preconceitos contra os povos indígenas e seus descendentes. Tudo isso não é igual quanto a recorrente reinvenção do seu imaginário: a exuberância da paisagem e dos seus recursos naturais em contraste com os meios de sobrevivência da sua população carente.

Uma das maiores indiferenças as condições de trabalho e sobrevivência na Amazônia deu-se na década de 80, com aquela visão espetacular de um dos maiores exemplo de escravidão à céu aberto do século XX, refiro-me a Serra Pelada, no Pará, onde mais 80 mil garimpeiros pareciam um formigueiro de seres humanos, revolviam a terra em busca de fortuna, misturados a lama arrancavam o ouro com as próprias mãos.

Aqueles "homens-formiga", pessoas que carregavam os sacos que chegavam a pesar 50 quilos de barro, faziam, em média, dez viagens por dia pelas encostas íngremes do enorme buraco. Neste abismo muitos desabavam de cansaço, soterrando-os. Entre os anos 1980 a 1982, a Serra Pelada produziu 40 toneladas de ouro. Depois da exaustão da exploração manual, milhares de trabalhadores foram lançados a própria sorte, logo depois chegou as máquinas.

Hoje, a enorme cratera é a testemunha de uma perversa e desoladora realidade do trabalho escravo na Amazônia. Mas este é um dos inúmeros episódios que insiste na sua permanência.

TERATOLÓGICOS DE ABAETETUBA

Nas terras cuja padroeira é N.S.Nazaré, da governadora paraense Ana Júlia, de uma juíza, de uma delegada, nesta mesma região das amazonas, na cidade de Abaetetuba, no estado do Pará um fato chocou a opinião publica nacional e internacional.

Uma adolescente de 15 anos de idade, acusada de roubo e vadiagem, foi jogada numa cela de cadeia aonde teve que conviver com outros 20 presos, homens, durante quase um mês. Portanto, eram vinte homens e uma mulher. Já imaginou o dia a dia de convivência, nesta minúscula cadeia?
E o pior é que a cidade de Abaetetuba era cúmplice, sabia da existência desta ignomínia, mas silenciou-se.

Esta história me fez lembrar o filme "Mouchette, a virgem possuída" (*). Neste filme o diretor Robert Bresson coloca em evidência, de maneira implacável, a miséria e a crueldade, através da trágica história de uma menina camponesa solitária que vive com seus pais numa casa modesta. Seu pai é alcoólatra e sua mãe não tardará a morrer. Ela é violentada por um caçador.

O ASSASSINO VIRA INOCENTE

Tambem no Pará, o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, "o Bida", que em 2007 foi condenado à 30 anos de regime fechado, por ter sido o mandante do assassinato da freira Dorothy Stang (Anapu-PA), cumpriu um pouco mais de três anos da sua sentença, quando para perplexidade de todos (maio de 2008) ele foi absolvido e solto, depois que Amair Feijoli da Cunha, o Tato acusado de intermediar aluguel de pistoleiros, mudou o seu depoimento aonde confessava ter sido contratado pelo fazendeiro "Bida". Isso mesmo, desdisse o que havia dito em juízo. Diante deste fato o Tribunal do Júri de Belém em sua esmagadora maioria deu inocência ao fazendeiro, e este imediatamente deixou-se fotografar comemorando o resultado.

Escárnio? Impunidade recorrente. (***)

Faz-se necessário lembrar que não se tem noticia de algum mandante de eliminação física de um líder indígena, sem-terra, religioso ou militante de entidades que defendam os interesses das populações pobres da Amazônia que tenham sido presos, condenados e cumprido a sua sentença. Vide o famoso assassinato do líder seringueiro Chico Mendes (1944-1988), hoje um mártir, mais a sua morte foi anunciada, e chegou a ser publicada com antecedência nos jornais do Rio Branco, no Acre. E o massacre (1996) do Eldorado dos Carajás? Os mandantes e comandantes uniformizados/ ou não, continuam impunes.

Nos jornais de ontem (07.maio.2008) um bispo revela que existem 300 religiosos ameaçados de morte, sendo que 100 deles, incluso ele próprio, acostumou-se a conviver com seguranças que os protegem 24 horas.

ÍNDIOS, ARROZ E BOÇALIDADES

Em Pacaraima, cidade de Roraima, um fazendeiro/prefeito se arroga no direito criar uma força paramilitar, armar-se com fuzis e pistolas, invadir aldeias indígenas e atirar à esmo como estivesse em pleno oeste norte-americano, mas na verdade é a reserva indígena Raposa Serra do Sol, portanto a sua e outras fazendas encontram-se aí irregularmente instaladas, sujeitos a responder por invasão de território indígena. Este é mais um episódio entre muitos que se arrasta pelos tempos, os invasores e corruptores tentam a qualquer custo desqualificar o direito ancestral das populações indígenas.

Esta atitude não é nova, nos tempos da ditadura, o senador mato-grossense Gastão Muller declarou, "se os fazendeiros quisessem, poderiam ter partido para uma luta armada, e seria muito fácil vencer os índios".

Os índios Ianomâmis, habitantes de Roraima, depois de três décadas vendo a sua população diminuir substancialmente por causa do contato com os 30 mil garimpeiros que invadiram o seu território, contaminando as águas dos seus rios com mercúrio, eles finalmente no inicio dos anos 90, depois de sofreram uma campanha indiscriminada e preconceituosa contra os direitos ancestrais sobre aquelas terras, tiveram a sua área demarcada e homologada. Logo depois sofreram um massacre (Haximú,1993****), mesmo sem a punição dos seus algozes, hoje, esses índios vivem numa relativa situação pacifica. Os interesses encontram-se focalizados sobre as terras dos povos indígenas que habitam a Raposa Serra do Sol.

Cair em tentação em desqualificar os povos indígenas é desconhecer a maioria da população amazônica, sobretudo no Amazonas e em Roraima?

Defender os interesses duma minoria...Sem sequer resguardar os interesses dos habitantes originais, sob o "fajuto argumento de soberania"? A maioria dos integrantes da tropa do exercito brasileiro na fronteira é composta por índios /ou descendentes diretos da primeira geração.

Na Amazônia tem índio com PHD, tem índio professor, secretario de estado, tem índio sacana e bajulador, são como nós mesmos...

Ora, esse território Raposa Serra do Sol, em Roraima, pertence aos povos indígenas que o habitam faz milhares de anos, e aí desenvolveram um modo de viver, uma civilização autentica. O mínimo que os invasores teem a fazer é sair deste território.

Caso os fazendeiros queiram plantar e colher arroz ou soja, que o façam, porque não?Desde, é claro, que paguem um tributo por isso, afinal a terra já tem dono.

ÍNDIO MEU PAI, MINHA MÃE

Todos estes fatos acontecem numa mesma região com 5,1 milhões de quilômetros quadrados e que correspondem a 60% do território nacional. Mesmo assim a questão em se ter um pedaço de terra é como se aqui realmente fosse, na primeira visão dos navegantes lusos, uma ilha, a Ilha de Vera Cruz. Cruzes!

Créditos:

*Foto/fazendeiro Bida e advogados: Ary Souza/"O Liberal".

**Mouchette, a virgem possuída" (Mouchette, de Robert Bresson. Dur.87', França,1967).

***Segundo levantamento da CPT - Comissão Pastoral da Terra, entre 1971 a 2007, houve 819 mortres em razão de disputas de terras no Estado do Pará. Apenas 92 casos resultaram em processo. Apenas 22 tiveram julgamentos do Tribunal do Júri - nesses, seis mandantes foram condenados.
No entanto, não há nenhum deles preso. (FSP,9.maio.2008)

****Realizei na época o documentario "Davi Contra Golias" , 10 min. (Prêmio Margarida de Prata-documentario). Prod. Instituto Socioambiental.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

AMAZÔNIA NAU-FRÁGIL I




A Amazônia não é uma prioridade real para os brasileiros, mas é uma prioridade mundial”
Marcelo Leite, FSP, 30. 01. 2008.


Segundo as últimas pesquisas do IBGE, o brasileiro pouco conhece sobre o seu Estado, e ainda mais quando se é questionado sobre as outras regiões, mesmo assim, a palavra “Amazônia” soa aos ouvidos e ao seu imaginário como um lugar muito especial, aquele que lhe pertence sem saber “porquê”. Talvez, aí esteja uma das questões causadas pelo impacto das noticias sobre o desmatamento da Amazônia - um perplexo pesadelo nacional.

Muito se tem falado sobre a conservação das florestas e muito pouco tem se investido, diante dos sucessivos desastres que assombram a população do planeta, como o aquecimento global, a escassez de recursos naturais e o avanço, sem piedade, da população urbana sobre o que resta de florestas.

Neste caso, a Amazônia, é personagem protagonista. É sobre quem todos têm alguma opinião, ou melhor, duas:

1. Explorar suas riquezas para o bem da humanidade; ou
2. Preservá-la para o bem do futuro da humanidade.

Afinal, a quem pertence a Amazônia?

Nos anos oitenta, o presidente francês François Miterrand, declarou: “O Brasil precisa aceitar uma soberania relativa sobre a Amazônia”. Recentemente foi a vez do prêmio Nobel Al Gore: “Ao contrário do que os brasileiros pensam, a Amazônia não é deles. Ela pertence a todos nós”.

Logo concluímos, querem internacionalizar a Amazônia. Eis um fato relativo, caso realmente não tomemos medidas que valorizem as riquezas da floresta amazônica. Não é somente aquela perspectiva de mantê-la intacta, como aí não vivesse ninguém, mas ao contrário encará-la como um desafio de preservá-la explorando seus recursos, multiplicando a generosidade da sua biodiversidade, sem exauri-la.

Os países que fazem fronteiras ao norte do Brasil e integram a Amazônia, começam a sentir a pressão dos paises ricos, sim, justamente aqueles que antes os mantinha como território colonial. Recentemente, o presidente da Guiana anunciou que vai negociar a preservação de sua floresta amazônica com a Inglaterra, em troca de recursos para o desenvolvimento. O Suriname visando os mesmos objetivos, tambem, decidiu oferecer o seu território para campo de testes de veículos norte-americanos.

Desde aquela declaração do presidente francês François Miterrand, em que relativizava os direitos do Brasil sobre a Amazônia, nos últimos anos a Guiana Francesa vem recebendo investimentos pesados por parte da França, na construção de um importante centro de pesquisas que inicialmente recebeu R$ 600 milhões só neste projeto. Para se ter uma idéia, as nossas equivalentes instituições na Amazônia Brasileira (INPA- Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, em Manaus e o Museu Goeldi, em Belém), recebem juntos menos que R$ 20 milhões para atender as suas demandas de pesquisas.

Os franceses perceberam que investir na biodiversidade da floresta amazônica, criando infra-estrutura de ciência e tecnologia, calcula que eles, nas próximas três décadas, a Amazônia, este laboratório natural, poderá render-lhes R$ 900 bilhões em produtos fitoterápicos e cosméticos.

Em recente encontro com o presidente brasileiro, Luis Inácio Lula da Silva, o presidente francês Nicolas Sarkozy esteve em pauta a respeitabilidade das suas fronteiras, estas que começam no continente europeu e se expande até ao norte da fronteira do Brasil.

Conservar a vida na floresta em toda sua diversidade e extensão é um desafio com a responsabilidade do dia-a-dia e para todo sempre. Cuidar do meio ambiente - a começar pela condição humana, o ente mais nobre da cadeia evolutiva - significa assegurar a sobrevivência das espécies, da qualidade de vida e da dignidade de todas as pessoas, de toda a população amazônica.

E é este conceito, que representa o maior desafio de toda a humanidade no início deste novo milênio, o referencial de conduta de todas as pessoas, entidades, organizações e instituições que se mobilizam para assegurar os termos e as exigências de um padrão civilizatório de sobrevivência de toda a Humanidade.

Um das responsabilidades que nós amazônidas e brasileiros é, sem perda de tempo e loas, buscar um novo padrão de desenvolvimento como opção inteligente e racional do espaço amazônico, com respeito aos parâmetros ambientais e procura incessante do atendimento das demandas sociais - ciência, tecnologia e o saber popular na Amazônia.

"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

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Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.